Reuters
14/02/2002 - 17h19

Milosevic ataca o Ocidente durante defesa em Haia

da Reuters, em Haia

Slobodan Milosevic acusou hoje o Ocidente de tramar a sua derrubada e a desintegração da Iugoslávia, como parte de uma tentativa de dominar o mundo.

Com palavras duras, ele começou sua defesa frente ao tribunal internacional que o acusa de genocídio e crimes contra a humanidade cometidos na Bósnia, Croácia e Kosovo.

Milosevic foi extraditado há sete meses pelo governo que o sucedeu. Desde terça-feira ele está sendo julgado em Haia. Pode ser condenado à prisão perpétua.

Para o ex-ditador, o julgamento é político e dirigido pela Otan, a aliança militar ocidental, que em 1999 bombardeou a Iugoslávia para defender os albaneses de Kosovo. "Obviamente o objetivo (dos ataques) foi aterrorizar e destruir toda a nação iugoslava. O alvo, em termos práticos, era toda a nação", afirmou Milosevic, 60, que advoga em causa própria.

Ele foi o primeiro a entrar no plenário hoje, carregando uma pasta de couro de onde tirou fotos e documentos para se defender de 66 acusações. Durante quase quatro horas, ele falou com confiança e fluência, em sérvio. Parava apenas para limpar os óculos e consultar anotações.

"Este é um crime contra a verdade. É uma competição entre a justiça e a injustiça", afirmou Milosevic sobre o julgamento, que disse ser condicionado pelos interesses norte-americanos. Os três juízes, com suas roupas cerimoniais, ouviram em silêncio. A acusação tampouco se manifestou.

Guerra de vídeos

Os dois primeiros dias do julgamento foram destinados para que os promotores apresentassem as acusações, com a ajuda de vídeos mostrando atrocidades atribuídas aos sérvios.

Milosevic respondeu à altura. Mostrou um documentário alemão crítico à ação da Otan e exibiu fotos de corpos destroçados depois dos bombardeios, que ele chamou de "criminosos". O ataque durou 11 semanas.

A organização Human Rights Watch afirma que 500 civis morreram nos bombardeios da Otan. O antigo governo iugoslavo falava em 2.500 vítimas. "O bombardeio de alvos civis foi inclemente. Quanto mais sofrimento, mais civis, melhor", disse ele.

O ex-ditador afirmou que a acusação conta com um grande aparato legal e de opinião pública à sua disposição. "Que tenho de fazer? Só tenho um telefone público na prisão. É tudo o que eu tenho para lutar contra a terrível acusação a meu país, a meu povo e a mim mesmo", disse.

Ele recusou-se a constituir advogados porque considera o tribunal ilegítimo. A corte nomeou advogados por ele.

Milosevic, derrotado nas eleições de 2000, acusou o governo reformista moderado que o sucedeu de ser um "fantoche" do Ocidente. Na Sérvia, a população reage com indiferença ao que acontece em Haia, apesar de Milosevic tentar retratá-lo como um julgamento de toda a nação.

O julgamento de Milosevic é considerado o mais importante na Europa desde que oficiais nazistas foram levados ao banco dos réus em Nuremberg, há meio século. O ex-ditador é acusado de crimes contra a humanidade nas guerras de independência da Croácia (1991-92) e em Kosovo (1999), além de genocídio, a acusação mais grave, na guerra da Bósnia (1992-95).

Os promotores dizem que mais de 1 milhão de pessoas foram presas ou expulsas de suas casas e dezenas de milhares foram mortas.

O julgamento deve durar cerca de dois anos.

Leia mais no especial sobre Slobodan Milosev
 

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