Reuters
18/02/2002 - 12h30

Milosevic queixa-se de "caça às bruxas" contra sua família

da Reuters, em Haia

A família de Slobodan Milosevic foi vítima de uma "cruel e selvagem" caça às bruxas, segundo descrição do ex-ditador iugoslavo, feita hoje ao tribunal da ONU (Organização das Nações Unidas) que o julga por genocídio e crimes contra a humanidade.

Roubando a cena pelo terceiro dia, na apresentação de suas considerações iniciais em defesa própria, Milosevic deixou por alguns instantes seu monólogo sobre a política dos Bálcãs e as origens das guerras na região.

Reuters - 13.fev.2002
Slobodan Milosevic, ex-presidente da Iugoslávia
"Há ódio pessoal contra mim. Toda minha família está sob ataque", afirmou, trocando o habitual tom de desafio pelo de lamentação. Ele disse que sua mulher, Mira Markovic, foi alvo "da mais selvagem campanha de imprensa", quando deveria ser tratada como uma intelectual que fez "esforços sobre-humanos" pela paz.

Também seus filhos, disse ele, precisaram se esconder das acusações generalizadas. Milosevic afirmou que, durante a campanha militar da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) para proteger os albaneses de Kosovo, em 1999, a casa da sua família foi alvo de mísseis.

O juiz Richard May pediu a Milosevic que acelerasse sua exposição para terminá-la na manhã de hoje. À tarde, começam os depoimentos de sobreviventes e investigadores das guerras.

Várias testemunhas terão o anonimato garantido, para assegurar sua proteção. Milosevic disse que esse recurso cria "falsas testemunhas", que são parte do "oceano de mentiras" contra ele.

A acusação não deve ter dificuldade em provar os massacres, torturas, estupros e expulsão de moradores durante as guerras da Croácia (1991), Bósnia (1992-1995) e Kosovo (1998-1999). O desafio deles será demonstrar que Milosevic ordenou, permitiu ou se recusou a punir tais abusos.

Observadores acham que a "cadeia de comando" é mais fácil de definir no caso de Kosovo, o menos sangrento dos três conflitos, já que aquela região formalmente ainda faz parte da Iugoslávia. Nos outros dois casos, Milosevic apoiava as guerrilhas sérvias que queriam evitar a independência, mas talvez não desse as ordens.

Um advogado da líder servo-bósnia Biljana Plavsic disse na segunda-feira que ela não quer testemunhar no caso. Plavsic, também acusada de genocídio, se entregou ao tribunal da ONU em Haia em janeiro de 2001 e aguarda o julgamento em liberdade.

Hoje, Milosevic disse que tinha "péssimas" relações com os líderes sérvios da Bósnia. Ele insistiu que as guerras dos Bálcãs foram fomentadas pelo "neocolonialismo" ocidental.

Leia mais no especial sobre Slobodan Milosevic
 

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