Reuters
26/02/2002 - 16h47

Milosevic ouve relato de morte de bebê durante êxodo forçado

da Reuters, em Haia

Slobodan Milosevic ouviu hoje o relato feito por uma mãe sobre a morte de seu bebê em 1999 quando sua família foi obrigada a fugir de um vilarejo em chamas, onde forças sérvias teriam queimado vivas duas senhoras com deficiência física que partiam no comboio.

A mulher, que perdeu o marido e um dos cinco filhos durante o êxodo forçado dos albaneses de Kosovo da província, tentou manter a calma enquanto relatava ao Tribunal Criminal Internacional para a ex-Iugoslávia o ataque a seu vilarejo em março de 1999.

O ex-líder da Iugoslávia, acusado de promover limpeza étnica na Croácia, Bósnia e Kosovo durante os 13 meses em que esteve no poder, escutou impassível o relato.

No dia 28 de março de 1999, soldados e policiais sérvios reuniram os habitantes de Izbica, separaram os homens das mulheres e crianças, roubaram seu dinheiro, mataram os homens e forçaram as mulheres e crianças a deixar o vilarejo em chamas e marchar até a fronteira da Albânia, contou Ajmane Behramaj, 32.

"Eu tinha cinco filhos. Agora tenho quatro", disse ao tribunal no décimo dia do julgamento de Milosevic.

Segundo os promotores, 116 homens albaneses foram assassinados na ocasião.

"Às 11 horas vimos seis tanques chegando no vilarejo. Eles cercaram o vilarejo por todos os lados", disse Behramaj. "As crianças ficaram assustadas e começaram a chorar e então eles nos encontraram. Vieram e separaram os homens das mulheres."

"Estava lá com meus cinco filhos e os soldados sérvios pediram o nosso dinheiro. Dei-lhes 100 marcos alemães... Vimos eles queimando os vilarejos e ouvimos tiros", relatou.

Segundo a testemunha, durante a marcha exaustiva, os refugiados -- que eram insultados pelos soldados sérvios -- imploraram por comida. O bebê de Behramaj morreu então de inanição.

Behramaj disse ter visto duas mulheres com deficiência física serem incendiadas. "Sim, foram queimadas no trailer com todos os pertences. Não conseguiam se mexer", disse a testemunha.

Milosevic é acusado de promover a deportação de 800 mil albaneses de Kosovo como parte do objetivo de criar uma "Grande Sérvia" etnicamente pura.

Ele, que está conduzindo sua própria defesa, ofereceu condolências à mulher pela morte de seu bebê de seis semanas, mas em seguida mudou o tom de seu discurso ao interrogá-la, para tentar achar incongruências em seu depoimento.

Milosevic a questionou em todos os detalhes de sua fala, do número de casas existente na vila ao desaparecimento de seu marido. Depois de ela ter dito que a sua vila tinha 60 casas, ele retrucou: "Eu tenho um número de 12 casas e 70 habitantes".

Num dado momento do interrogatório, ele pareceu estar visivelmente irritado e acusou a promotoria de manipular as testemunhas.

"Eu não quero continuar a fazer perguntas para as testemunhas...das quais eu não obtenho respostas adequadas", disse ele.

Enquanto isso, em Belgrado, a mulher de Milosevic disse hoje que está preocupada com a saúde de seu marido, que estaria estafado com a tarefa de se autodefender.

Leia mais no especial sobre Slobodan Milosevic
 

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