Reuters
26/02/2002 - 20h27

Bebê geneticamente selecionado nasce livre de Alzheimer

da Reuters, em Chicago

Em um caso que levanta questões éticas, uma mulher que pode estar condenada a desenvolver a doença de Alzheimer em dez anos deu à luz um bebê que foi geneticamente selecionado para não apresentar a doença.

A mulher, que tinha 30 anos quando deu à luz, provavelmente não será capaz de cuidar ou até mesmo reconhecer sua filha dentro de alguns anos, pois carrega um gene que causa a doença de Alzheimer de início precoce. A família da mulher carrega uma mutação que faz com que o distúrbio se manifeste antes dos 40 anos.

A menina nasceu de um embrião selecionado para não apresentar a mutação. Ela, que hoje tem cerca de 18 meses, não herdou a tendência de Alzheimer de início precoce.

O mal de Alzheimer de início precoce é definido como a doença de Alzheimer -uma forma de senilidade que destrói as capacidades intelectuais e sociais- que afeta antes dos 65 anos. O problema é muito raro.

Os pesquisadores do Instituto de Genética Reprodutiva de Chicago disseram que o nascimento do bebê marcou a primeira vez que o diagnóstico genético pré-implantação, como a técnica é chamada, foi usado para eliminar embriões carregando o defeito que causa o problema.

A mulher, que não foi identifica, ainda não desenvolveu Alzheimer e seu marido é saudável. Sua filha está bem, disse Yury Verlinsky, autor do estudo publicado na edição desta semana do Jama "Journal of the American Medical Association".

Verlinsky afirmou que a avaliação genética foi usada mais de 3.000 vezes e normalmente é empregada para evitar distúrbios hereditários como a anemia falciforme.

Sua clínica estampou as manchetes dos jornais no ano passado em um caso em que um embrião foi selecionado para fornecer células-tronco com o objetivo de ajudar um irmão do bebê que ainda não nasceu.

A mulher do estudo está saudável, mas sua irmã desenvolveu a doença de Alzheimer de início precoce aos 38 anos e não consegue cuidar de seus dois filhos.

Além disso, seu pai morreu aos 42 anos após sofrer de problemas psicológicos e de memória. Um dos irmãos, que também carrega o gene, começou a apresentar problemas de memória aos 35 anos.

Verlinsky disse que as dificuldades que a família deve enfrentar com uma mãe incapacitada e uma criança pequena serão compensadas, em sua opinião, pelo fato de que a próxima geração da família estará livre da doença.

Em um comentário publicado no mesmo jornal, Dena Towner e Roberta Springer Loewy, da Universidade da Califórnia, disseram que o estudo levanta questões éticas. "Como sua irmã, a mulher do estudo provavelmente será incapaz de cuidar ou até mesmo reconhecer sua filha dentro de alguns anos", afirmaram elas.

As duas médicas disseram que a mãe agiu com responsabilidade ao garantir que sua filha não tenha de viver com a ameaça de desenvolver a doença de Alzheimer de início precoce, mas avaliou a questão ao definir sua responsabilidade ética "somente em termos de prevenção de doença", sem considerar que ela pode não ser capaz de cuidar de sua filha.

"As diferenças entre essas duas interpretações de responsabilidade ética são absolutas, mas ambas se baseiam em hipóteses feitas sobre reprodução -esse é um privilégio ou um direito inquestionável e inalienável?", questionaram elas.
 

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