Reuters
27/02/2002 - 16h53

Milosevic recebe advertência de juiz por fazer discurso político

da Reuters, em Haia

O ex-presidente da Iugoslávia, Slobodan Milosevic, foi repreendido hoje por usar seu julgamento por crimes de guerra como uma plataforma política para difamar promotores e prejudicar testemunhas.

Milosevic, acusado de genocídio e crimes contra a humanidade na Croácia, Bósnia e Kosovo na década de 90, foi repreendido pelo juiz Richard May no tribunal de crimes de guerra de Haia após afirmar que considerava falsa a versão dos promotores.

"Não estamos impressionados com o seu discurso político. O senhor fez isto várias vezes. Isto não melhora com a repetição", disse May depois de Milosevic ter acusado os promotores de manipular testemunhas para tentar garantir sua condenação.

Milosevic, que afirmou que o tribunal da Organização das Nações Unidas era "ilegal" e demonstrou seu desprezo ao se recusar a nomear um advogado de defesa, tentou ridicularizar a promotoria repetidamente acusando-a de ignorar fatos concretos.

Milosevic, que está reexaminando os depoimentos das testemunhas, é acusado de promover uma campanha brutal para expulsar 800 mil albaneses da Província de Kosovo em 1999 como parte de um projeto de criar uma "Grande Sérvia".

"Osama bin Laden poderia trazer várias testemunhas de Kosovo e Metohija que poderiam jurar que viram com os próprios olhos George Bush lançando granadas e bombas no Pentágono e na Casa Branca", ironizou Milosevic no décimo primeiro dia de seu julgamento.

Ele acusou os Estados Unidos e a rede Al Qaeda de Osama bin Laden de apoiar os separatistas do Exército de Libertação de Kosovo (KLA) em 1999.

O ex-líder de 60 anos dispensou com impaciência um albanês de Kosovo que depunha como testemunha depois de fazer perguntas sobre os conflitos entre as forças sérvias e a população de maioria albanesa da província.

"A testemunha não sabe nada. Não acho que faça sentido eu continuar interrogando esta testemunha", disse Milosevic ao tribunal depois de interrogar Besnik Sokoli, um tradutor que disse ter sido deportado da cidade de Pec pelas forças sérvias em março de 1999.

Sokoli contou ao tribunal ter sido espancado pela polícia sérvia em um hotel em Pec por mais de seis horas antes de ser jogado em um caminhão e levado para a fronteira da Albânia.

"Fui forçado a deixar Kosovo por medo. Tinha medo de que algo de ruim acontecesse a minha família ou a mim. Não saí de lá por causa dos bombardeios da Otan", afirmou Sokoli.

Milosevic afirma que a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e o KLA, e não as forças sérvias, foram responsáveis pelas atrocidades cometidas em Kosovo. A campanha de 11 dias de bombardeios da Otan contra a Iugoslávia fez com que as forças sérvias fossem obrigadas a interromper sua ofensiva e se retirar da Província.

"Recursos verbais não podem ser usados para anular algo que foi visto pelo mundo inteiro. Isto não pode anular a agressão do KLA e da Otan", disse Milosevic ao tribunal.

O ex-presidente queixou-se por não ter tido acesso suficiente a assessores jurídicos para preparar sua própria defesa.

"Não tenho nenhuma condição de me defender aqui. Vocês sabem muito bem que eu não vou fugir deste lugar de força e injustiça", disse Milosevic em mais uma tentativa de ser solto provisoriamente.

Milosevic está detido em uma prisão nos arredores de Haia e tem o direito de apelar pela liberdade provisória.

Leia mais no especial sobre Slobodan Milosevic
 

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