Reuters
28/02/2002 - 15h29

Irmãos Cohen voltam com "O Homem Que Não Estava Lá''

da Reuters, em Hollywood

Com "O Homem Que Não Estava Lá", os irmãos Ethan e Joel Coen retrocedem para território típico de James M. Cain ("O Destino Bate À Sua Porta"), mas com resultados que não se equiparam aos deste ou aos que eles próprios já tiveram, em seus melhores momentos.

Rodado em belíssimo preto e branco, o filme conta uma história típica do cinema noir, de adultério, chantagem e assassinato, no qual o personagem-título leva a opacidade e passividade ao extremo.

Ambientado na pequena cidade de Santa Rosa, Califórnia (palco de "A Sombra de Uma Dúvida", de Alfred Hitchcock), em 1949, o filme possui todos os ingredientes de um noir sedutor.

Mas é a maneira que os diretores escolheram para contar a história que diminui sua tensão potencial, enfraquecendo a ação: durante boa parte do tempo, em lugar de ver o que acontece, o espectador apenas ouve a narrativa dos fatos.

A tática tem o efeito de quase eliminar as cenas de confronto dramático, tornar as reviravoltas da trama menos surpreendentes e prejudicar seriamente as oportunidades de os irmãos Coen demonstrarem um de seus grandes pontos fortes habituais: o diálogo regional e de época vivaz e imaginativo.

Billy Bob Thornton é o barbeiro inexpressivo e calado Ed Crane, que trabalha ao lado de seu cunhado Frank (Michael Badalucco), sujeito expansivo que é dono da barbearia. Quando um estranho falador, Creighton Tolliver (Jon Polito), entra para cortar o cabelo e menciona uma oportunidade no ramo da lavagem a seco para a qual precisa de um investimento de US$ 10 mil, Ed decide mudar sua vida sem graça, chantageando Big Dave (James Gandolfini), que Ed sabe que está tendo um caso com sua própria mulher, Doris (Frances McDormand), para que este lhe dê o dinheiro.

O restante da história mostra a maneira fatídica como a iniciativa de Ed acaba afetando as vidas de diversas pessoas, num inesperado efeito dominó.

Sem revelar muito mais, pode-se dizer que pelo menos duas mortes imprevistas acabam lentamente despertando emoções em Ed, provocando alguma dose de entusiasmo nesse mais taciturno dos homens.

O filme prende a interesse do espectador e possui alguns momentos poéticos belíssimos, mas a presença física de Ed, quase inerte, e o fluxo narrativo quase contínuo fazem com que a história pareça avançar em câmara quase lenta, efeito intensificado pelo uso das lentas sonatas de piano de Beethoven como fundo musical.
 

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