Reuters
04/03/2002 - 10h21

Rede elétrica pode difundir internet rápida no Brasil

da Reuters

Internet em banda larga chegando a quase 100% dos lares do país parece uma promessa boa demais para ser verdade, mas distribuidoras de energia do país já testam essa possibilidade, interessadas em descobrir a viabilidade técnica e econômica da nova tecnologia.

O segredo para a "mágica" de estender a web de uma base de entre 19 e 20 milhões de internautas para quase todos os domicílios do país está na tecnologia PLC, do inglês "Power Line Communication", capaz de conectar o computador à rede mundial por meio de uma simples tomada de energia.

"O conceito do PLC é ótimo", disse a analista da consultoria Yankee Group Adriana Menezes. O PLC vem sendo desenvolvido há pelo menos dez anos, mas foi somente do ano passado para cá que começou a ser lançado comercialmente na Europa. No Brasil a tecnologia está sendo testada por distribuidoras de energia como Copel, no Paraná, e Cemig, em Minas Gerais.

A experiência da Copel, que investiu US$ 1 milhão para levar o sistema elétrico de banda larga para 50 domicílios e estabelecimentos comerciais de Curitiba, revelou que a tecnologia funciona, mas o custo da infra-estrutura é bem alto e corresponde a quase 50% da instalação de uma rede de linhas telefônicas digitais (ADSL).

"A tecnologia funcionou bem para os aparelhos instalados em circuitos curtos [onde a distância da fonte do sinal de dados até a residência do usuário é de cerca de 300 metros]", disse o diretor superintendente da Copel Telecomunicações, Humberto Sanches Netto.

Ele acrescentou que a companhia conseguiu taxas de transferência de até 1,7 Mbps (milhões de bits por segundo), seis vezes superior aos 256 Kbps alcançados pela maioria das conexões de alta velocidade disponíveis no país.

Distância é problema

Segundo o professor de engenharia da USP (Universidade de São Paulo) Wagner Luiz Zucchi, um dos principais problemas do PLC é exatamente a pequena distância necessária para que os dados cheguem sem erros ao usuário pela rede elétrica, o que encarece os custos da infra-estrutura.

"Quanto maior for a distância da fonte que gera o dado, menor a banda [capacidade de transmissão de dados]. No caso do PLC o problema é maior porque o principal desafio é conseguir uma banda grande o suficiente para ser dividida por vários usuários, já que todo o sistema elétrico é ligado em paralelo", explicou Zucchi.

A Cemig também encontrou os mesmos problemas de custos. No caso da empresa mineira, os testes foram em parte bancados pela Empresa de Infovias, prestadora de serviços de comunicações.

"O custo da tecnologia inviabiliza a adoção imediata. Ela precisa se tornar infinitamente mais barata", disse o superintendente de Telecomunicações e Informática da Cemig, Luiz Henrique de Castro Carvalho. A empresa desembolsou R$ 200 mil, além da parte da Infovias, para conectar 40 usuários.

Parcerias

Na opinião da analista do Yankee Group e do professor Zucchi, o PLC deve ser considerado mais como uma alternativa híbrida que aproveite as atuais redes de fibra óptica do país em conjunção com os cabos de energia de localidades que ainda não estão servidas por outros meios de acesso rápido à internet, como o ADSL e a TV a cabo.

A solução mista economizaria os custos de instalação de novas redes de banda larga.

"Algumas operadoras acham isso viável principalmente em lugares onde não há muito ADSL", disse a analista Menezes, do Yankee. Para ela, o PLC pode ser massificado no país dentro de cinco anos, isso se a tecnologia conseguir se desenvolver e reduzir custos de implantação frente à expansão do ADSL, que terá no final deste ano 545 mil usuários no Brasil, segundo relatório do próprio Yankee.

E a infra-estrutura híbrida do PLC pode intensificar a colaboração entre companhias de energia e operadoras de telecomunicações, avaliam analistas.

"O mercado está mudando a cara porque as companhias de telecomunicações estão antecipando metas para operarem em outras regiões e por isso o foco do negócio hoje está mais para parcerias", disse o sócio-diretor da área de telecomunicações da KPMG Brasil, Manuel Fernandes.

A Cemig vai de encontro com a tese de Fernandes. "O que estamos fazendo é verificar se a rede elétrica comporta a comunicação de dados. A nossa última milha pode ser usada para esse fim e por isso queremos identificar quem são os 'players' de comunicação que querem usar essa última milha [usuário doméstico]", disse Carvalho.

Já a Copel Telecomunicações quer "ser a entregadora de pizza" de dados para vários fornecedores. "Desde 1999 a Copel queria ter uma solução de acesso para a última milha, e o PLC é uma boa oportunidade", afirmou o diretor superintendente Sanches Netto.

A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) aguarda a conclusão dos testes com o PLC para definir a legislação que vai regular essa tecnologia, caso ela seja amplamente adotada no Brasil.

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