Reuters
04/03/2002 - 21h01

Análise: Preço alto deve frustrar leilão de licenças de celulares

RENATA DE FREITAS
da Reuters, em São Paulo

A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) facilitou a compra em sete parcelas, mas os preços das licenças do serviço móvel pessoal que vão a leilão este mês ainda tornam inviável qualquer plano de negócios.

Por isso, analistas acreditam que não haverá interessados entregando propostas nesta terça-feira, na sede da Anatel, em Brasília.

Os preços mínimos dos dez lotes de licenças das bandas D e E da telefonia móvel --que permitem o uso da tecnologia européia conhecida por GSM (Global System for Mobile Communications)-- somam 2,06 bilhões de reais. As licenças cobrem 19 Estados e o Distrito Federal.

O edital foi lançado em janeiro e sete grupos compraram uma cópia: as operadoras de telefonia celular TCO, Telemig Celular e Oi (do grupo Telemar ), a empresa de telefonia fixa Brasil Telecom, o escritório Carvalho de Freitas e Ferreira Advogados e dois grupos identificados apenas como WXYZ 0006 Holdings e Guadalupe Participações.

Para o analista Luís Minoru, do Yankee Group, instituto especializado em telecomunicações, os Estados do Paraná, Santa Catarina e Minas Gerais poderiam despertar mais interesse porque existem apenas duas operadoras e a terceira licença não chegou a ser vendida. Mas o preço não compensa.

O vice-presidente do Yankee Group no Brasil, Dario Dal Piaz, acredita que não haverá interessados, embora alguns grupos precisem preencher lacunas nas suas operações para se tornar realmente nacionais.

``O fato de a Telemar não estar em São Paulo é crítico'', afirmou Dal Piaz. ``Para a Telefônica faltam Brasília e Minas Gerais'', acrescentou. ``Isso vai ser chave a longo prazo, mas como o preço é o mesmo, se o plano de negócios não fecha, as empresas não compram licenças'', disse.

Os analistas de telefonia celular dos bancos Bear Stearns e UBS Warburg, Alexandre Constantini e Luiz Mann, engrossam o coro de que não deve haver interessados no leilão.

``O governo só facilitou a forma de pagamento. Há um ano as licenças eram mais atraentes e mesmo assim não conseguiram vender'', afirmou Constantini. Segundo ele, entre 6 e 7 milhões de assinantes entraram no último ano no mercado, que encerrou 2001 com quase 29 milhões de celulares.

A ocupação dos principais mercados --como o de São Paulo, onde já existem a Telesp Celular, a BCP e, em breve, a TIM-- deve ser um inibidor para a Telemar, na opinião de Constantini. Para o analista, o terceiro operador vai demorar três anos para conquistar cerca de 15 por cento do mercado.

Ele também não tem expectativa de que a TCO venha a comprar alguma licença. ``A TCO vem tentando convencer o mercado de que não é uma empresa à venda, mas mesmo que compre uma licença, vai continuar sendo um alvo'', disse Constantini.

Mann, analista do UBS Warburg, admite que o surgimento de algum interessado nas licenças teria motivações estratégicas, mas não razões econômicas. ``Eu avaliaria negativamente quem comprasse uma licença porque são caras, e não há crescimento que justifique'', disse.

De acordo com o analista, as operadoras que já estão atuando não têm interesse nessas licenças porque tentam crescer adicionando assinantes e reduzindo subsídios. ``Elas não querem crescer a qualquer custo'', afirmou. ``O melhor para as empresas é crescer, mas com um custo que seja coerente com a receita'', afirmou.
 

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