Reuters
05/03/2002 - 08h32

Preço alto deve frustrar leilão de licenças de telefonia celular

RENATA DE FREITAS
da Reuters

A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) facilitou a compra em sete parcelas, mas os preços das licenças do serviço móvel pessoal que vão a leilão este mês ainda tornam inviável qualquer plano de negócios. Por isso, analistas acreditam que não haverá interessados entregando propostas nesta terça-feira, na sede da Anatel, em Brasília.

Os preços mínimos dos dez lotes de licenças das bandas D e E da telefonia móvel --que permitem o uso da tecnologia européia conhecida por GSM (Global System for Mobile Communications)-- somam R$ 2,06 bilhões. As licenças cobrem 19 Estados e o Distrito Federal.

O edital foi lançado em janeiro e sete grupos compraram uma cópia: as operadoras de telefonia celular TCO, Telemig Celular e Oi (do grupo Telemar ), a empresa de telefonia fixa Brasil Telecom, o escritório Carvalho de Freitas e Ferreira Advogados e dois grupos identificados apenas como WXYZ 0006 Holdings e Guadalupe Participações.

Para o analista Luís Minoru, do Yankee Group, instituto especializado em telecomunicações, os Estados do Paraná, Santa Catarina e Minas Gerais poderiam despertar mais interesse porque existem apenas duas operadoras e a terceira licença não chegou a ser vendida. Mas o preço não compensa.

O vice-presidente do Yankee Group no Brasil, Dario Dal Piaz, acredita que não haverá interessados, embora alguns grupos precisem preencher lacunas nas suas operações para se tornar realmente nacionais.

"O fato de a Telemar não estar em São Paulo é crítico'', afirmou Dal Piaz. "Para a Telefônica faltam Brasília e Minas Gerais'', acrescentou. "Isso vai ser chave a longo prazo, mas como o preço é o mesmo, se o plano de negócios não fecha, as empresas não compram licenças'', disse.

Os analistas de telefonia celular dos bancos Bear Stearns e UBS Warburg, Alexandre Constantini e Luiz Mann, engrossam o coro de que não deve haver interessados no leilão.

"O governo só facilitou a forma de pagamento. Há um ano as licenças eram mais atraentes e mesmo assim não conseguiram vender", afirmou Constantini. Segundo ele, entre 6 e 7 milhões de assinantes entraram no último ano no mercado, que encerrou 2001 com quase 29 milhões de celulares.

A ocupação dos principais mercados --como o de São Paulo, onde já existem a Telesp Celular, a BCP e, em breve, a TIM-- deve ser um inibidor para a Telemar, na opinião de Constantini. Para o analista, o terceiro operador vai demorar três anos para conquistar cerca de 15 por cento do mercado.

Ele também não tem expectativa de que a TCO venha a comprar alguma licença. "A TCO vem tentando convencer o mercado de que não é uma empresa à venda, mas mesmo que compre uma licença, vai continuar sendo um alvo'', disse Constantini.

Mann, analista do UBS Warburg, admite que o surgimento de algum interessado nas licenças teria motivações estratégicas, mas não razões econômicas. "Eu avaliaria negativamente quem comprasse uma licença porque são caras, e não há crescimento que justifique'', disse.

De acordo com o analista, as operadoras que já estão atuando não têm interesse nessas licenças porque tentam crescer adicionando assinantes e reduzindo subsídios. "Elas não querem crescer a qualquer custo'', afirmou. "O melhor para as empresas é crescer, mas com um custo que seja coerente com a receita'', afirmou.
 

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