Reuters
05/03/2002 - 18h23

Rede de espiões israelenses nos EUA teria informações sobre Al Qaeda

da Reuters, em Paris

O jornal francês "Le Monde" revelou hoje que os Estados Unidos desmantelaram uma grande rede de espionagem israelense que pode ter rastreado supostos membros da Al Qaeda nos Estados Unidos sem informar as autoridades federais norte-americanas.

O jornal citou um relatório secreto do governo norte-americano delineando atividades de espionagem dos israelenses que conteriam "elementos que dão sustentação à tese de que Israel não forneceu aos Estados Unidos todas as informações que tinha sobre o planejamento dos ataques de 11 de setembro".

Em Washington, entretanto, funcionários da Justiça dos Estados Unidos desqualificaram o relatório. Um deles disse que a suposta rede de espionagem seria uma "história fictícia".

O "Le Monde" informou que o estudo secreto revelava que os israelenses se apresentavam como estudantes de artes gráficas e tentavam entrar em edifícios do escritório da Agência de Repressão às Drogas (DEA) e outros órgãos federais.

O "Intelligence Online", publicação com sede em Paris que revelou o estudo ontem, afirmou que cerca de 120 espiões israelenses foram presos ou expulsos e que as investigações continuam.

Questionado sobre o relatório da "Intelligence Online", um porta-voz do FBI, a polícia federal norte-americana, qualificou o informe de "história fictícia". O porta-voz disse: "Não havia uma rede de espionagem."

Hoje, em Washington, a porta-voz do Departamento de Justiça dos EUA, Susan Dryden, declarou sobre o relatório: "Neste momento, não temos nenhuma informação que sustente isso".

Autoridades norte-americanas disseram que alguns estudantes israelenses haviam sido deportados do país por violações de imigração e não por espionagem.

Em Israel, um porta-voz afirmou ontem que o primeiro-ministro não tinha nada a declarar sobre o assunto.

O "Le Monde" publicou as descobertas da "Intelligence Online" e acrescentou elementos revelados por seus repórteres. "Uma vasta rede de espionagem israelense operando em território norte-americano foi desmantelada", diz o jornal.

O diário francês descreveu a rede como o maior caso de espionagem israelense nos Estados Unidos descoberto desde 1986, uma referência à pena de prisão perpétua recebida por Jonathan Pollard, um judeu americano que passou segredos militares dos Estados Unidos a Israel. O caso Pollard abalou as relações entre os países, dois aliados tradicionalmente próximos.

Guillaume Dasquie, editor do "Intelligence Online", disse à Reuters ontem que o relatório não especificava exatamente que tipo de informação os supostos agentes procuravam. "O relatório mostra que uma rede clandestina estava envolvida em várias operações de inteligência. Era um projeto a longo prazo", disse.

O "Le Monde" afirma que publicou trechos da introdução do relatório, de junho de 2001, incluindo um comentário de que as mulheres na rede de espionagem eram normalmente "muito atraentes".

Segundo o jornal francês, mais de um terço dos supostos espiões israelenses tinha vivido na Flórida, onde pelo menos 10 dos 19 árabes envolvidos nos ataques de 11 de setembro ao World Trade Center, em Nova York, e ao Pentágono, também viviam.

"Esta coincidência pode ser a origem da desconfiança norte-americana de que uma das missões dos 'estudantes' israelenses pode ter sido a de rastrear os terroristas da Al Qaeda nos EUA sem informar as autoridades", afirma o "Le Monde". Ainda segundo o jornal, que diz ter tido acesso à cópia do relatório secreto, seis supostos espiões usaram telefones celulares comprados de um ex-vice cônsul de Israel nos Estados Unidos.

Tanto o "Le Monde" quanto o "Intelligence Online" disseram que a Agência de Repressão às Drogas confirmou a existência do estudo, feito para o Departamento de Justiça pela agência e pelo Serviço de Imigração e Naturalização, o FBI e a Força Aérea.

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