Reuters
08/03/2002 - 09h17

Diretor de "Latitude Zero" quer resgatar alma de excluídos

da Reuters

Toni Venturi impõe ao espectador situações claustrofóbicas e desconcertantes em seu primeiro longa-metragem ficcional, "Latitude Zero", que conta o drama de dois personagens em um garimpo abandonado no Mato Grosso.

Baseado na peça "As Coisas Ruins da Nossa Cabeça'', texto ainda inédito de Fernando Bonassi, o filme é rodado em uma única locação e, nas telas, exibe apenas dois atores (Débora Duboc e Claudio Jaborandy) capazes de expressar conflitos sociais universais sem deixar que o ritmo decline durante a projeção.

Venturi formou-se em cinema pela Ryerson University, em Toronto (Canadá), onde viveu durante 10 anos. Retornou ao Brasil em 1985 e, no início dos anos 90, dirigiu séries para televisão.

O primeiro longa relembrou a polêmica trajetória de uma das mais conhecidas figuras políticas do país, no documentário "O Velho, A História de Luís Carlos Prestes'', de 1997. Foi ao final desse projeto que Venturi sentiu-se preparado para encarar a ficção novamente, desta vez no longa-metragem "Latitude Zero'', cujo modesto orçamento de um milhão de reais não prejudicou em nada o rigor técnico da fita.

"Sou extremamente perfeccionista. Acho que áudio e imagem devem estar impecáveis, além de possuir uma forte narrativa'', disse Toni Venturi.

O roteiro, desenvolvido pelo diretor em parceira com Di Moretti, ficou entre os quatro finalistas no Festival de Sundance. Depois de pronto, o filme arrebatou 14 prêmios, levando a BR Distribuidora a interessar-se pelo projeto, patrocinando a distribuição.

Ao transpor a peça para o cinema, Venturi optou por preservar a estética teatral, com dois personagens praticamente imóveis num mesmo cenário.

"Tínhamos dois caminhos: preservar a essência da dramaturgia teatral ou partir para uma construção baseada em flash backs, com os personagens narrando suas próprias histórias. Optamos por trabalhar com a imaginação do espectador'', explicou.

Depois de muitas pesquisas, o diretor decidiu filmar na cidade de Poconé, no Mato Grosso, que possuía condições muito próximas às exigidas pela história, mas sem a periculosidade existente nos garimpos dos rincões brasileiros.

Venturi diz que sua função como cineasta não é chocar, mas provocar a discussão. "Meu trabalho tem uma preocupação social tanto no documentário como na ficção. Em 'O Velho', a proposta era histórica. No 'Latitude', busco trazer um pouco da alma de dois excluídos sociais.''

O filme, na sua opinião, resgata um Brasil esquecido. ''Minha intenção inicial era fazer um drama, mas vi que o filme carregava uma metáfora existencial mais profunda, uma visão antiutópica do país'', revelou.
 

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