Reuters
12/03/2002 - 21h20

Criador da Dolly troca Escócia por Cingapura "por amor à ciência"

da Reuters, em Cingapura

O amor pela ciência, não o dinheiro, fez com que o especialista em clonagem, que ajudou a criar a ovelha Dolly, decidisse trocar o Reino Unido por Cingapura em busca de uma cura para a diabete.

A disponibilidade de células-tronco e o potencial de mais verbas foram fatores-chave para atrair Alan Colman, que esteve nas manchetes em 1996 depois de criar a Dolly, o primeiro mamífero clonado do mundo.

"A motivação é científica, mais do que qualquer outra coisa", disse Colman, 54. "A possibilidade de realizar o trabalho científico que quero fazer", acrescentou.

Em abril, Colman irá se unir à empresa de células-tronco ES Cell International (ESI), com ligações com Cingapura, como diretor científico, após 14 anos na companhia escocesa PPL Therapeutics. Foi nesta empresa que Colman também realizou trabalhos pioneiros de clonagem de porcos e mamíferos geneticamente modificados e clonados.

Colman descreveu seu novo cheque de pagamento como "um pouco mais alto do que o da PPL" sem dar mais detalhes. "O salário é competitivo, mas não acho que seja muito mais alto, não é muito mais do que recebo", disse ele.

A principal preocupação do cientista agora é se Cingapura possui capacidade científica suficiente para apoiar sua pesquisa, ajudar a concretizar seu trabalho de criação de grandes quantidades de células-tronco da ESI e desenvolver as próprias capacidades científicas da empresa.

Colman começou a explorar o uso de células-tronco embrionárias como uma cura para diabete em camundongos há cerca de 18 meses. Ele estava à procura de fornecedores de células-tronco embrionárias humanas para avançar em sua pesquisa quando entrou em contato com a ESI.

"Acho que a diabete é um ótimo alvo para essa tecnologia", disse Colman.

Ensaios clínicos canadenses mostraram que as células pancreáticas produtoras de insulina de doadores mortos, quando injetadas no fígado, podem curar pacientes com diabete grave.

Colman espera criar células pancreáticas abundantes a partir de células-tronco embrionárias.

A pesquisa com células-tronco embrionárias vem provocando um intenso debate ético em todo o mundo, uma vez que sua obtenção envolve a destruição de embriões. Cientistas acreditam que estas células podem substituir células danificadas por doenças incuráveis.

Para diminuir parte do desconforto ético, os Estados Unidos divulgaram uma lista oficial de dez grupos de pesquisa com cerca de 64 linhagens de células-tronco embrionárias elegíveis para financiamento norte-americano no ano passado.

A ESI é uma das poucas a criar linhagens viáveis, disse Colman.

"A ESI já possui as células, não há ninguém no Reino Unido que tenha produzido células dessa natureza", afirmou ele.

A ESI, que começou com um capital inicial de 9,3 milhões de dólares do governo de Cingapura e de investidores australianos, quer formar um centro de pesquisa de base e produção de células-tronco.

As ciências biomédicas estão se destacando como um novo pilar da economia de Cingapura.

O governo prometeu pelo menos US$ 1,3 bilhão nos últimos dois nos para formar infra-estrutura, treinar cientistas e financiar pesquisas.

O país possui poucas regulações da atividade científica, embora algumas diretrizes moderadas devam ser divulgadas ainda este ano.

"O país realmente tem desenvolvido um trabalho de alta qualidade nas áreas. Estou interessado nisso e o país parece ter a base de investimento para permitir que isso continue", disse Colman.

Ele estima que serão necessários US$ 42,5 milhões nos próximos quatro anos para financiar sua pesquisa de diabete, que pode chegar aos testes clínicos em cinco anos.

Entretanto, até o momento, não há garantia de que Cingapura vai oferecer fundos para essas investigações.

"Em termos de dinheiro para o projeto da diabete, não há promessas sobre a quantidade da qual estou falando", disse Colman, que ainda não se reuniu com a direção da ESI.

"Mas acredito que conseguirei o dinheiro. Não posso dizer de que fontes, porque ainda não tenho certeza", acrescentou.
 

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