Reuters
11/05/2001 - 21h37

Escritores peruanos são processados por pedir votos em branco

da Reuters, em Lima

As eleições peruanas têm uma nova polêmica. Dois dos mais famosos escritores do país disseram hoje que estavam sendo processados em um US$ 1 milhão por incitar o público a votar em branco nas eleições do mês que vem.

Jaime Bayly e Alvaro Vargas Llosa têm pedido insistentemente que os eleitores deixem as cédulas em branco ou que as anulem no segundo turno presidencial que deve acontecer no dia 3 de junho. De acordo com eles, nem Alejandro Toledo, nem seu rival Alan Garcia são dignos de confiança ou merecem vencer.

Além de ser escritor, Bayly é apresentador de um programa de debate político na televisão chamado "The Sniper'' (O crítico), que ele tem usado para desmoralizar ambos os candidatos às eleições.

Alvaro Vargas Llosa _o filho do célebre romancista Mario Vargas Llosa_ foi um dos mais próximos consultores de Toledo até o mês passado. A agência oficial de notícias andina disse que os requerentes do processo contra a dupla são um advogado e um economista que alegaram que a campanha para votar em branco lançada em abril colocava em risco a estabilidade da democracia no Peru.

Os acusadores disseram que a campanha viola um artigo do código penal que estipula de um a quatro anos de prisão para qualquer pessoa que tente controlar ou comprar votos.

Eles estão pedindo um milhão de dólares por "danos civis", que planejam doar para instituições de caridade. Nenhum dos dois e nem mesmo o promotor puderam ser encontrados para que fizessem comentários.

"Não estou surpreso. Acho que essa reação mostra que Alejandro Toledo e Alan Garcia estão muito, muito nervosos com o aumento espetacular dos votos em branco'', diz Vargas Llosa pelo telefone, de Madri. O escritor acrescentou que estava voltando ao Peru amanhã para lançar uma campanha nacional junto com Bayly.

De acordo com a mais recente pesquisa nacional, Toledo está 13 pontos à frente de Garcia, mas o número dos indecisos e dos que planejam anular ou votar em branco ficou em segundo lugar, logo atrás de Toledo.

A eleição poderia ser cancelada se dois terços dos eleitores anulassem os votos, mas os analistas não acreditam que isso seja possível.

Os escritores dizem que esse não era realmente o objetivo deles e só querem garantir que, quem quer que seja eleito saiba que terá um eleitorado crítico disposto a vigiar os potenciais excessos.

Defeitos

Bayly e Vargas Llosa questionaram a honestidade do financiamento da campanha e a moral do partido de Toledo. O político enfrenta acusações de ter negado o reconhecimento da paternidade a uma filha e alegações de ter tido resultado positivo em testes para uso de cocaína em 1998, depois de supostamente ter sido visto com três mulheres em um hotel. Toledo nega as acusações e diz que foi sequestrado.

Os escritores também atacaram García por seu governo de 1985-90, que levou o Peru a uma inflação astronômica, uma crise da dívida externa e filas de pessoas pedindo comida onde alegações de corrupção _que Garcia nega_ eram o lugar-comum.

García se defendeu afirmando que era "perfeitamente são e lúcido'' depois das alegações de Bayly e de outros, de que ele sofria de distúrbio maníaco-depressivo.

Vargas Llosa contou que está levando o processo "muito seriamente'', e suspeita que os candidatos estão por trás das acusações. "O objetivo é nos intimidar. É um tipo de chantagem'', comentou ele. "Se os votos em branco ficarem em primeiro lugar nas próximas eleições, como acho que ficarão, eles vão continuar. Nós não nos deixarem intimidar", completou.

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