Reuters
31/03/2002 - 12h55

Afeganistão exclui "terroristas" da assembléia tradicional

da Reuters, em Cabul

O Afeganistão anunciou hoje que a Loya Jirga (assembléia tradicional de líderes afegãos) que vai se reunir em meados de junho excluirá terroristas, traficantes de drogas e criminosos de guerra. A reunião servirá para decidir se o líder interino do país, Hamid Karzai, será ou não mantido no governo.

O encontro dos 1.450 delegados da Loya Jirga em Cabul será o maior passo do Afeganistão rumo à normalização política desde a derrubada do regime islâmico do Taleban, em dezembro.

"Agimos sem medo e sem pressão de ninguém", disse Ismail Qasimy, presidente da comissão criada pela ONU para organizar essa assembléia. O jurista Qasimy disse que a reunião, que acontece de 10 a 16 de junho, será "a Loya Jirga da paz e da democracia".

A assembléia vai também definir que tipo de regime o país vai adotar e apontar os ministros mais importantes, que devem governar até as eleições diretas previstas para 2004.

Haverá 1.051 delegados eleitos diretamente. Os outros serão escolhidos por setores como mulheres (160 delegadas), empresários, religiosos, refugiados e emigrados. Karzai, seus ministros e os 21 membros da comissão preparatória também têm assento reservado.

Para participar, os candidatos precisam ter mais de 22 anos, não manter vínculos com grupos considerados terroristas e não ser visto aos olhos do povo como culpado na morte de inocentes.

Segundo Qasimy, não haverá proibição à participação de ex-membros do Taleban. "Se preencherem os requisitos, podem vir", afirmou. O ex-rei Zahir Shah, exilado em Roma desde 1973, deve inaugurar a Loya Jirga e deixar a reunião depois da escolha da mesa diretora.

A Loya Jirga é um sistema usado há séculos no Afeganistão para tomar decisões importantes. Costuma ocorrer em média a cada 20 anos - a última foi em 1987. São encontros exóticos aos olhos do Ocidente, que reúnem intelectuais, políticos, imãs e líderes das tribos mais isoladas do país. Alguns usam trajes tradicionais, outros recorrem ao terno e à gravata.

A eleição dos delegados terá observadores internacionais e a supervisão da ONU (Organização das Nações Unidas), com primárias em 13 de abril e a votação definitiva em 6 de junho. Os 1.450 delegados anunciados são quase o triplo do que queria Qasimy - ele teve de ampliar o número para contentar várias facções.

A aproximação da reunião deve aumentar a divisão étnica no país. Karzai é um pashtun, a etnia majoritária, mas seu governo é dominado pelos tadjiques.

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