Reuters
14/05/2001 - 15h11

Violência religiosa espalha-se novamente na Bósnia

da Reuters, em Sarajevo (Bósnia-Herzegóvina)

A Bósnia tornou-se cenário de ataques contra refugiados que voltam ao país e monumentos religiosos na última semana, em consequência da violência antimuçulmana em duas cidades controladas pelos sérvios.

Seis casas foram atingidas por granadas e pelo menos doze túmulos foram danificados em uma aparente resposta à tentativa de reconstrução de mesquitas destruídas durante a guerra civil (1992-95).

A missão da ONU (Organização das Nações Unidas) no país, que supervisiona a polícia, disse que alguns ataques parecem ter sido uma retaliação pelos tumultos em que sérvios impediram cerimônias para reinaugurar as mesquitas das cidades de Trebinje e Banja Luka.

Na cidade muçulmana de Sanski Most, perto de Banja Luka, uma granada foi lançada contra uma igreja ortodoxa, disse um funcionário da ONU na região.

Também como parte desse cenário de tensão religiosa, túmulos muçulmanos foram danificados em Banja Luka, e um cemitério dos católicos ortodoxos em Lukavic foi violado, segundo informou a agência de notícias bósnia "Onasa".

Na cidade de Janja, no nordeste do país, palco de tumultos antiislâmicos no ano passado, a casa de um muçulmano e a de um sérvio foram atingidas por granadas, enquanto três residências de muçulmanos foram apedrejadas. Outra casa de uma família sérvia foi atingida por granada em um subúrbio de Sarajevo e, em Doboj (norte), uma placa em homenagem a militares sérvios foi destruída.

As manifestações sérvias, que a ONU prevê que serão breves, deixaram 30 feridos. O porta-voz da ONU Alan Roberts disse que estudantes adolescentes são os responsáveis pelos incidentes. "Tudo acabou durante a noite", afirmou.

Segundo ele, os últimos tumultos "não afetaram e não devem afetar o movimento de retorno à república sérvia", em referência ao número, pequeno, mas crescente, de croatas e muçulmanos da Bósnia que estão reclamando suas propriedades confiscadas durante a guerra pelos sérvios, e hoje sob seu controle.

Autoridades internacionais, que tentam costurar as divisões em um país dividido em um governo muçulmano-croata e outro sérvio, esperam que as autoridades sérvias punam os responsáveis pela violência.

Eles querem em especial saber por que os alunos de uma escola secundária próxima à mesquita puderam deixar as aulas pouco antes da cerimônia de reinauguração e por que a polícia não interveio na confusão, segundo Roberts.

Mas ele viu também lições para a comunidade internacional. Tanto o presidente iugoslavo, Vojislav Kostunica, quanto as autoridades sérvias da Bósnia haviam criticado as cerimônias. Roberts disse que a situação poderia ter sido mais bem conduzida.

A comunidade internacional não deveria "pajear" os líderes locais todo o tempo, mas deveria intensificar seus esforços para assegurar comunicações eficientes entre os grupos étnicos envolvidos no problema, segundo ele. "Precisamos estar mais preparados para agir como árbitros."

 

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