Último dia do Amni Hot Spot teve boneca, operária e paquita
da Reuters, em São PauloImaginário infantil e austeridade marcaram o terceiro e último dia de desfiles de outono/inverno do Amni Hot Spot, evento que se propõe a mostrar novos talentos da moda brasileira, na quinta-feira.
Emilene Galende, a primeira estilista da noite, mostrou uma coleção inspirada no personagem Chapeuzinho Vermelho e recheada de capuzes e bolsos canguru - uma invasão no universo da criança, cenário comumente explorado pelo estilista Marcelo Sommer em suas criações para o São Paulo Fashion Week.
Vestidos em malha, tricô e plush foram peças constantes no trabalho de Galende. Saias plissadas na altura do joelho, com bolsinhas amarradas à cintura, calças e casados em lavagem estonada e legging usado como "underwear" compunham o desfile, que teve muito vermelho, rosa-bebê e laranja desbotado.
As modelos apareceram com cílios postiços e laços de plástico prendendo o cabelo, como se fossem grandes bonecas, o que ressaltava a atmosfera infantil. A trilha sonora com músicas da banda americana Sonic Youth deu também um tom "indie" às roupas.
Totalmente diferente do anterior, o segundo desfile mostrou roupas austeras e marcantes. O estilista Wilson Ranieri fez uma coleção com muita malha, sarja, algodão e lã.
Vestidos fechados até o pescoço e de comprimento abaixo do joelho, em tons sóbrios como cinza-chumbo, preto e rosa-chá, conferiram às modelos um ar que lembrava operárias alemãs da Segunda Guerra Mundial.
O ponto em comum da coleção de Ranieri eram os grandes botões encapados no tom dos tecidos, que marcavam tanto as golas, quanto a frente dos vestidos, onde apareciam em diagonal. As calças, de corte reto e clássico, tinham abotoaduras na parte traseira, como pijamas antigos.
Um pano de fundo em cetim vermelho, como uma cortina de cabaré, dava ao público o teor do último desfile da noite, do estilista Walério Araújo.
Um casaquinho militar com ombreiras e abotoaduras em dourado, um short mínimo, botas e quepe foi o look "soldadinha de chumbo" que abriu a apresentação de Araújo.
Era praticamente impossível não lembrar os uniformes usados pelas paquitas, ajudantes de palco do extinto programa "Xou da Xuxa". O tom militar veio também em roupas masculinas.
A segunda parte do desfile mostrou uma coleção inspirada em temas religiosos e em personagens das cortes. Vestidos longos e secos tinham estampas ricas, que lembravam vitrais, além de muito brilho conferido pelos cristais bordados.
O alegre colorido de leggings criava o efeito de patchwork em tons fortes, remodelando pierrôs e bobos da corte. Bordados, rendas e estampas de coroas e flores-de-lis remetiam a um tempo muito distante.
"Os três desfiles estavam muito interessantes'', disse à Reuters a consultora de moda Glória Khalil. ``O primeiro mostrou delicadeza, o segundo veio sóbrio e forte e o terceiro foi uma festa", completou.
