Reuters
09/04/2002 - 13h45

Células-tronco do próprio paciente ajudam a tratar Parkinson

da Reuters, em Washington

Um transplante realizado com as próprias células nervosas de um paciente com mal de Parkinson eliminou os tremores e a rigidez muscular característicos da doença, disseram hoje pesquisadores do Centro Médico Cedars-Sinai, em Los Angeles, no Estado da Califórnia (Costa Oeste dos EUA).

Os cientistas acreditam ter isolado e cultivado células-tronco adultas do cérebro do doente, que foram reimplantadas no paciente e restauraram o funcionamento do organismo.

"Esse é o primeiro caso a demonstrar que uma técnica promissora pode funcionar. É um procedimento experimental e deve ser mais bem investigado antes de se tornar uma técnica aceita", afirmou Michel Levesque, chefe da equipe do Centro Médico Cedars-Sinai.

Mais de dois anos após o tratamento experimental, o homem não apresentava sintomas de Parkinson, doença incurável que começa com tremores e termina por incapacitar as vítimas. O distúrbio surge com a morte das células cerebrais responsáveis pela produção de dopamina, importante neurotransmissor relacionado aos movimentos.

Várias equipes de pesquisadores avaliam a possibilidade de regenerar essas células cerebrais a partir de células-tronco, estruturas que dão origem a vários tipos diferentes de tecidos.

Algumas células-tronco são obtidas de embriões em estágio bastante inicial de desenvolvimento, outras são retiradas de fetos abortados. Um terceiro tipo pode ser encontrado nos tecidos do próprio paciente, mas são difíceis de serem caracterizadas.

Autotransplante
Segundo Levesque, o paciente é um engenheiro nuclear e piloto de avião que desenvolveu Parkinson por volta dos 40 anos. Ele apresentava tremores e rigidez muscular. As drogas usadas no tratamento, como sempre, provocaram o abandono do trabalho.

A equipe perfurou o crânio do doente e removeu um pedaço do seu cérebro. "Retiramos uma pequena porção de córtex que provavelmente era menor que uma ervilha", disse Levesque. "Extraímos células-tronco neuronais ou precursores dessas células."

É difícil dizer se uma célula é célula-tronco. Apesar disso, os cientistas as cultivaram em um meio especial, uma espécie de sopa nutritiva.

A equipe verificou se ao menos algumas células produziam dopamina e depois as injetou no cérebro do paciente, afirmaram os cientistas em um encontro da Associação Americana de Cirurgiões Neurológicos, realizado em Chicago.

Tomografias do cérebro do doente, que mostram o funcionamento do órgão, verificaram que a dopamina era produzida e usada. "Em três meses, houve um aumento de 58 por cento", disse Levesque.

Atualmente, a produção de dopamina do paciente, medida pela tomografia, voltou aos níveis do primeiro tratamento. Esse resultado confunde Levesque, pois os sintomas da doença não retornaram.

Para o especialista, é possível que, após o término da produção de dopamina, haja uma pequena demora antes do surgimento de sintomas de Parkinson. Outra hipótese é que a tomografia não mostre tudo o que ocorre.

Outras células também podem estar envolvidas no processo subjacente ao Parkinson, disse o cientista. Existe ainda a possibilidade de que os animais usados para estudar a doença não reproduzam de maneira precisa a forma humana da enfermidade, e as pessoas podem reagir de maneira diferente ao tratamento.

Embora a primeira fase de segurança do estudo tenha sido feita com um único paciente, Levesque informou que a FDA (Food and Drug Administration), agência norte-americana para controle de drogas e alimentos, permitiu que a equipe comece os testes da segunda fase, que incluirão mais pacientes, exames de segurança da terapia e avaliação da efetividade do tratamento.

Levesque e colaboradores criaram a empresa Neurogeneration para desenvolver a técnica. A companhia foi comprada pela CelMed Bioscience da Califórnia, subsidiária da Theratechnologies, do Canadá.
 

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