Reuters
17/04/2002 - 18h58

OEA pede à Venezuela que não misture política e Forças Armadas

da Reuters, em Caracas

A Organização dos Estados Americanos pediu na hoje ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que comece a nova fase de seu governo, após superar um golpe de Estado, afastando os militares da política, como forma de restabelecer a credibilidade da democracia no país.

César Gaviria, secretário-geral da OEA, disse em Caracas que não vê risco de um novo golpe como o que derrubou Chávez por menos de 48 horas na semana passada. Mas ele advertiu que "há risco de que a instabilidade social volte em breve".

"Essa tradição que se estabeleceu na Venezuela nos últimos anos, de que os militares são importantes protagonistas políticos, é muito insalubre", disse. Os líderes do golpe estão presos, mas outros militares, fiéis a Chávez, ganharam importantes cargos em ministérios e autarquias.

Para Gaviria, se não houver mudanças urgentes, "será muito difícil preservar a democracia na Venezuela". O secretário-geral, que é colombiano, se reuniu com Chávez e com líderes da oposição e da igreja. Ele apresenta na quinta-feira, em Washington, seu relatório sobre a crise.

A Assembléia Nacional do país também está discutindo a crise, mas lá a distância entre chavistas e antichavistas parece cada vez maior. A oposição atribuiu toda a crise ao presidente e pede que ele convoque eleições, idéia que foi apontada como inconstitucional pelo presidente do Parlamento, William Lara.

O país está dividido entre os que têm posses e estão fartos do populismo de Chávez, a quem acusam de "cubanizar" o país, e aqueles que não têm nada e continuam confiando em sua "revolução pacífica".

José Mafud, um vendedor de 33 anos, acha que Chávez saiu "mais forte que nunca" do episódio. Outro homem, que se apresentou apenas como Rocco, diz que só ficará feliz quando Chávez sair.

Nesse clima, fervilham as teorias conspiratórias. As principais envolvem os Estados Unidos, que receberam com satisfação precipitada a notícia do golpe. Washington admitiu ter participado de reuniões com opositores e inclusive ter contatado o ex-presidente interino Pedro Carmona, mas nega ter incentivado o golpe.

Gaviria acha que o incidente levará Chávez a rever suas posições e resolver alguns conflitos. Ele propôs que a Igreja Católica (que uma vez foi chamada de "tumor" pelo presidente) assuma a mediação da crise.

O presidente parece reconciliado com a Igreja. Tanto que, durante sua rápida prisão em uma ilha do Caribe, convocou o cardeal Ignácio Velazco para garantir sua vida. Ambos rezaram juntos e fizeram as pazes.

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