Reuters
23/04/2002 - 11h45

Clone inviável pode ser fonte de células-tronco, sugere estudo

da Reuters, em Nova York

Os resultados de um novo estudo feito com rãs sugerem que embriões clonados que não conseguem se desenvolver normalmente poderiam servir como fonte de células-tronco para pesquisa e -possivelmente- para usos terapêuticos, informaram cientistas britânicos.

Os embriões que não têm capacidade de formar um novo organismo ainda parecem conter células-tronco, estruturas muito valiosas com potencial para originar vários tipos diferentes de tecido adulto.

Os resultados do trabalho indicam que seria possível usar embriões humanos "muito anormais", que morreriam em alguns dias, para estabelecer linhagens de células-tronco, disse John B. Gurdon, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.

"As pesquisas com células humanas poderiam ser muito valiosas para estabelecer as melhores condições para as células embrionárias se proliferarem e se diferenciarem", afirmou Gurdon. Segundo o pesquisador britânico, é possível que células isoladas de embriões defeituosos tenham aplicação terapêutica.

Como esses embriões são incapazes de sobreviver, "seria eticamente aceitável usar as células deles", caso ocorresse a formação de embriões anormais durante a clonagem ou em tentativas frustradas de fertilização assistida, comentou o cientista.

O objetivo da "clonagem terapêutica" é criar um embrião que não daria origem a uma pessoa, mas que pudesse ser uma fonte de células-tronco "especialmente projetadas" para um determinado paciente, o que reduziria o risco de rejeição caso elas fossem transplantadas como parte do tratamento de doenças.

Essa possibilidade é polêmica por vários motivos. Muitas pessoas temem que a permissão para a criação desses embriões seja um "truque" que possa levar ao abuso da tecnologia. Se um embrião como esse fosse transferido para o útero de uma mulher, ele poderia desenvolver um clone humano -uma idéia abominável para a maioria dos cientistas e especialistas em ética, entre outros.

Gurdon e colaboradores do Instituto Britânico de Pesquisa sobre o Câncer Wellcome, em Cambridge, estudaram embriões que não tinham a capacidade de desenvolver um organismo adulto.

Segundo artigo que será publicado na edição de 30 de abril da revista "Proceedings of the National Academy of Sciences", os pesquisadores removeram o material genético de uma célula de rã e inseriram-no em óvulos cujo DNA havia sido removido. Como geralmente ocorre em experiências de clonagem, a maioria não conseguiu dar origem a um embrião normal.

Atualmente, não mais de 6% das tentativas de clonagem de animais resultam em nascidos vivos. Em 94% das tentativas frustradas de clonagem, as células que recebem o transplante de núcleo de outra célula não conseguem iniciar o processo de divisão ou se tornam anormais e eventualmente morrem.

Nessa fase, a equipe de Gurdon retirou células de embriões defeituosos e as enxertou em embriões de rã que apresentavam desenvolvimento normal. Diferentemente das células dos embriões normais, as células do embrião clonado sem sucesso continham um gene fluorescente. Os cientistas detectaram a proteína codificada pelo gene fluorescente em vários tecidos das rãs adultas, inclusive em músculos, pele e células da coluna vertebral.

A descoberta sugere que os embriões anormais, apesar não apresentarem capacidade de desenvolvimento normal, contêm células capazes de formar vários tecidos especializados, informaram os pesquisadores.

Embora as experiências tenham sido realizadas com embriões de rãs, Gurdon explicou que as pesquisas sobre clonagem têm produzido resultados semelhantes em rãs e mamíferos. "Supomos que nossas conclusões possam ser aplicadas a células humanas", disse o coordenador do estudo.

Para testar a hipótese, a equipe planeja verificar se é possível obter resultados semelhantes com células cutâneas adultas em humanos.

 

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