Reuters
23/04/2002 - 17h21

Debate sobre celibato cresce na Igreja após casos de pedofilia

da Reuters, na Cidade do Vaticano

Se a Igreja Católica Romana abrisse mão da regra do celibato, os escândalos sexuais envolvendo seus padres diminuiriam? Essa pergunta é o centro do debate que movimenta a instituição desde o início da onda de escândalos de pedofilia que atingiu a Igreja nos Estados Unidos.

Quem apóia a proibição do casamento entre os padres, porém, diz que ligar isso à pedofilia como relação de causa e efeito é um absurdo.

"Simplesmente não há correlação entre celibato e comportamento sexual", diz o escritor norte-americano George Weigel, autor do best-seller "Witness to Hope" ("Testemunho da Esperança"), uma biografia do papa João Paulo 2º.

"A maioria dos abusos sexuais acontece na família. O registro dos Estados Unidos de agressões sexuais está cheio de pessoas casadas", disse ele à Reuters.

"Isso foge do ponto completamente ao tentar transformar estes problemas muito sérios em um passeio ideológico contra o celibato. Isso não é uma crise do celibato, é uma crise de falha em viver de acordo com os compromissos", disse Weigel.

Outros dizem que a linha entre repressão sexual e perversão sexual é muito tênue na sociedade moderna, afundada no sexo.

"Se bispos e cardeais tivessem esposas e filhos, talvez fossem menos simpáticos a padres que são pedófilos e mais preocupados com as crianças", disse Frances Kissling, líder do grupo dissidente norte-americano Católicos pela Livre Escolha. "Nem o celibato nem o homossexualismo são a causa da pedofilia, mas o celibato contribui para a imaturidade sexual e a presença de um número significante de padres casados aliviaria o problema."

Weigel diz que o conceito é errado. "A Igreja vai resolver a crise tornando-se mais católica, não se tornando menos católica", disse.

O debate sobre o celibato chegou às páginas do "The Pilot", jornal da arquidiocese de Boston, cujo cardeal, Bernard Law, está no centro de um escândalo de pedofilia. "Deve o celibato continuar sendo uma condição normativa? Se o celibato fosse opcional, haveria menos escândalos dessa natureza na Igreja?", escreveu o jornal em manchete do dia 15 de março.

A Igreja ensina que o celibato é um ato de amor de um padre pela instituição. Ele se sacrifica para manter-se unido a Cristo e à Igreja e para servir como um pai serve a uma família.

A prática começou nos primeiros séculos, mas se tornou obrigatória em 1139 e mantida pelo Conselho de Trento, em 1563.

"A regulamentação canônica do século 12 foi o complemento de um processo que caminhou por centenas de anos", disse Weigel, rejeitando os argumentos de que o celibato foi imposto para ajudar a Igreja a manter suas terras, que acabariam divididas se os padres tivessem herdeiros.

Leia mais
  • Papa se pronuncia sobre escândalos de pedofilia

  • Cardeal quer banir homossexuais da Igreja

  • Pedofilia na Igreja Católica preocupa papa

  •  

    FolhaShop

    Digite produto
    ou marca