Reuters
29/04/2002 - 21h55

Brasil comprova sucesso do uso de célula-tronco no coração

da Reuters, no Rio de Janeiro

Especialistas brasileiros demonstraram, por exames, que o transplante de células-tronco adultas levou à revascularização de áreas do coração afetadas por doença cardíaca. A equipe anunciou hoje o resultado dos testes, que representam uma esperança para pacientes vítimas de isquemia.

"Até hoje, não havia sido feita nenhuma demonstração objetiva (dos resultados) semelhante à que conseguimos", explicou o coordenador da pesquisa, Hans Dohmann. O especialista explicou que trabalhos anteriores apresentaram relatos subjetivos de sintomas, mas não conseguiram demonstrar o efeito no local do transplante.

Na experiência realizada por pesquisadores do Hospital Pró-Cardíaco, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Texas Heart Institute, dez pacientes receberam um transplante de células-tronco, aquelas capazes de dar origem a células de diferentes partes do corpo, retiradas da própria medula óssea. O grupo tinha uma idade média de 60 anos e todos os voluntários apresentavam doença coronariana grave sem outra alternativa de tratamento. Alguns já tinham passado por várias cirurgias de ponte cardíaca e outros esperavam por um transplante do órgão.

O estudo começou em dezembro de 2001, após a conclusão dos testes com animais. Até agora, quatro pacientes já apresentaram resultados. Em dois, houve 100% de melhora, com desaparecimento de todas as áreas de isquemia, em um caso houve melhora parcial e o quarto paciente não apresentou melhora significativa.

Avaliação objetiva
Segundo Dohmann, os parâmetros avaliados são o fluxo de sangue no músculo cardíaco, a força de contração e o volume do coração. Na sua opinião, o efeito do tratamento depende da distribuição e localização das áreas de isquemia, além da quantidade e funcionalidade das células obtidas na medula. Essas variáveis poderiam explicar as diferenças nos resultados entre os pacientes.

No procedimento, um catéter flexível é introduzido na artéria femoral, na região da virilha. O equipamento é dotado de um censor capaz de identificar, em tempo real, as áreas onde não há fluxo sanguíneo. Após o mapeamento, são aplicadas injeções de uma solução de células-tronco através de uma pequena agulha introduzida pelo mesmo catéter.

Segundo Emerson Perim, do Texas Heart Institute, o equipamento utilizado para o implante e avaliação dos resultados oferece uma imagem tridimensional do coração e foi desenvolvido pela Johnson & Johnson. Com um custo de cerca de US$ 200 mil, o aparelho usado na experiência foi fornecido pela empresa. Outro parâmetro de avaliação utilizado pelos especialistas foi a cintilografia.

O procedimento também está sendo testado em Hong Kong em um estudo que está em fase mais inicial que o trabalho brasileiro.

Dohmann informou que o trabalho será apresentado no Congresso Europeu de Cardiologia, no segundo semestre deste ano. A equipe planeja prosseguir o estudo e aplicar o procedimento em pacientes com estágio menos avançado da doença.

Esperança
Nelson Rodrigues dos Santos Águia, 68, e José Carlos da Rosa, 54, poderiam ser apenas mais dois a entrar nas estatísticas que dão um limite de sobrevivência de seis meses para 50% dos pacientes que apresentam doença coronariana grave.

Antes de chegar às mãos da equipe que fez o transplante de células-tronco, Rodrigues fora submetido a duas cirurgias e sete pontes cardíacas. Rosa esperava na fila do transplante como única esperança para acabar com as terríveis dores que sentia no peito.

"Antes da experiência com células-tronco, eu não vivia, só sofria", desabafou Rosa, ao lembrar das inúmeras hospitalizações e do cansaço que dificultava a realização de pequenas atividades.

Para ambos, o transplante realizado em dezembro de 2001 não foi nada penoso. Receberam uma anestesia local para a punção que retirou as células da crista ilíaca (parte posterior do osso do quadril). No mesmo dia, a solução de células-tronco, preparada pela equipe de Radovan Borujevic, no Laboratório de Histologia da UFRJ, foi reintroduzida pelo catéter.

Em 48 horas, estavam em casa e após uma semana começaram a sentir a mudança. "Comecei a achar que estava estranho e percebi que estava muito melhor", explicou Rodrigues. Ele fica orgulhoso ao contar que já consegue andar 4 km em dias alternados, superando os derradeiro 400 metros que lhe venciam antes do transplante.
 

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