Reuters
09/05/2002 - 20h25

"Tururu", longa de estréia de Florinda Bolkan, aborda universo feminino

da Reuters, em São Paulo

Atriz brasileira radicada na Europa há 34 anos, Florinda Bolkan, nasceu no Ceará e se chamava Florinda Bulcão. Sua beleza tropical impressionou diversos diretores europeus, como Luchino Visconti e Elio Petri, e ela chegou a ganhar um prêmio, no New York Film Critics Circle por sua atuação como protagonista do drama "Amargo Despertar" (1975), de Vittorio De Sica.

Aos 60 anos, que não aparenta, a bela e sóbria Florinda é presença rara nas telas - uma de suas últimas aparições no cinema nacional foi em "Bela Donna" (1997), de Fábio Barreto.

Em 2000, ela seguiu o sonho que é comum a muitos atores, sentando-se na cadeira de diretora e roteirista. Seu primeiro longa, "Eu Não Conhecia Tururu", estréia desta sexta-feira, foi filmado inteiramente nas paisagens cearenses que ela conhece tão bem.

Antes da pioneira exibição, no Festival de Gramado, com a elegância de sempre e um português já marcado por um leve sotaque, a diretora pediu clemência da platéia gaúcha. Houve aplausos e a avaliação geral então não foi impiedosa.

Sem dúvida, há os tropeços de roteiro e condução que se pode esperar de uma iniciante. Mas o filme tem o mérito de colocar na tela uma visão feminina para recontar a história de uma família toda de mulheres.

Quatro irmãs (Maria Zilda Bethlem, Suzana Gonçalves, Ingra Liberato e a própria Florinda), que vivem longe uma da outra, reúnem-se para o quarto casamento de uma delas (Suzana), desta vez com um jovem de 21 anos (Daniel Dias).

A mãe do clã (Lídia Matos, troféu de melhor atriz coadjuvante em Gramado) já exibe sinais de arteriosclerose. Enquanto isso, as filhas se posicionam de diferentes modos perante a vida e o amor.

Eleonora (Florinda), a mais velha, é escritora, mora na Europa e acaba de romper o casamento de 20 anos com um editor. Rose (Maria Zilda, prêmio de melhor atriz em Gramado) é pintora, ousada, irreverente e tem um caso com um homem casado (Herson Capri). Isabel (Ingra), a mais nova, vive nos EUA, é casada com um político e desafoga sua infelicidade na bebida.

De uma forma até ousada, a diretora introduz no enredo um caso homossexual, vivido entre ela própria e uma jovem italiana, Selvaggia (Valentina Vicario), filha de seu ex-marido.

Mesmo derrapando nas incertezas da diretora iniciante, o filme tem o mérito de reintroduzir uma discussão que muitos consideravam superada desde os anos 60, a da tolerância sexual.

Tendo a coragem de uma tomada de posição pelos direitos homossexuais femininos - menos por discurso militante que não existe, do que pela simples colocação de um casal de mulheres - o filme ganha até uma inesperada seriedade. Dramaticamente, porém, espera-se que uma nova tentativa de Florinda tenha maior consistência.

 

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