Reuters
17/05/2002 - 19h14

Cúpula com UE termina amarga para a América Latina

da Reuters, em Madri

A Colômbia foi o único país da América Latina que cantou vitória na reunião de cúpula com líderes da União Européia, em Madri, ao conseguir a condenação dos grupos rebeldes em seu território. Os outros saíram de mãos vazias.

O maior golpe foi a negativa da UE de incluir no documento final um compromisso em não impor restrições ao fluxo migratório. Uma fonte diplomática argentina disse que alguns países, entre eles Reino Unido, Holanda, Alemanha e Áustria, sugeriram que desejam impor restrições à imigração da América Latina.

A Argentina também foi derrotada no encontro. Sua situação econômica não inspirou solidariedade européia e a UE exigiu medidas "dolorosas" para o país avançar.

Os líderes latino-americanos chegaram a Madri com um rosário de reclamações, mas toparam com uma Europa que está se voltando à direita e também com crises econômicas e políticas.

O presidente colombiano, Andrés Pastrana, ficou perto de conseguir seu objetivo de incluir as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) na lista de organizações "terroristas". A Espanha aceitou apresentar um projeto neste sentido na reunião do Conselho Europeu, em 23 de maio.

O chanceler espanhol, Josep Pique, garantiu a jornalistas que "em breve" a Europa eliminará suas resistências a agregar as Farc na lista de "terroristas".

No documento final da cúpula, os países rechaçaram "as reiteradas violações aos direitos humanos e do direito internacional humanitário por parte de grupos à margem da lei na Colômbia" e condenaram os ataques e sequestros no país.

"Decisões dolorosas"
Como líder do país que ocupa a presidência temporária da UE, José Maria Aznar foi direto ao assunto ao referir-se à Argentina.

"Quero falar muito sinceramente e como amigo da Argentina (...). Desejo que se produzam todas as circunstâncias para um acordo o mais rapidamente possível entre a Argentina e o Fundo Monetário Internacional (...). O futuro da Argentina passa em grande medida pelo acordo com o Fundo", disse.

"Para tomar essas decisões, a Argentina conta com o respaldo do governo da Espanha e de toda a União Européia (...). São decisões difíceis, são decisões dolorosas", disse o primeiro-ministro espanhol.

Os pedidos para a Europa revisar sua política de subsídios à agricultura também apareceram. Os presidentes do Mercosul terão um encontro paralelo com a UE, mas fontes das chancelarias dos quatro países membros (Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai) adiantaram que não esperam decisões concretas.

De acordo com dados do bloco europeu, as exportações da UE para o Mercosul chegaram a US$ 21,8 bilhões em 2001, principalmente em produtos manufaturados. Já as importações pelo bloco ficaram em US$ 21,4 bilhões durante o mesmo ano, em sua maioria de produtos manufaturados.

O presidente Fernando Henrique Cardoso pediu na sexta-feira que UE abandone sua política protecionista e se comprometa com o livre comércio, para evitar que a posição européia continue prejudicando as exportações latino-americanas.

Em um discurso durante a cúpula, o presidente afirmou que "os países em desenvolvimento encontram barreiras invencíveis para seu comércio mais competitivo" e que esse tipo de política é um "mecanismo de congelamento de igualdades".

Distante das reclamações, e sob o olhar invejoso de boa parte da América Latina, o presidente do Chile, Ricardo Lagos, assinou um documento encerrando oficialmente as negociações sobre um acordo comercial com a UE, que ainda precisa ser aprovado pelos países do bloco.
 

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