Reuters
29/05/2002 - 13h24

Francesa Catherine Millet estuda sexualidade na obra de Dalí em livro

da Reuters, em São Paulo

Quando o pintor surrealista Salvador Dalí morreu, em 1989, a crítica de arte Catherine Millet contava 40 anos de idade e centenas de parceiros -aventuras que relatou em "A Vida Sexual de Catherine M.", lançado no ano passado.

Depois da bem-sucedida empreitada autobiográfica, a francesa prepara um livro sobre simbologias sexuais na obra do artista catalão, voltando assim às artes plásticas e mantendo um pé no erotismo.

Segundo Millet, seu novo projeto de estudo busca uma melhor compreensão do legado artístico de Dalí, centrado na sexualidade do pintor. Em suas pesquisas, a escritora se debruça sobre textos e diários do artista, assim como suas célebres pinturas e esculturas.

"Dalí foi muito desprezado nos meios da vanguarda, por razões estéticas e ideológicas. Ele precisa ser reabilitado", acredita a crítica de arte.

"O que eu amo em Dalí é a sua lucidez sexual. É essa lucidez que quero continuar a instigar em meus leitores" continua Millet. O livro ainda não tem título nem previsão de lançamento, mas, segundo a autora, "uma grande editora de Paris está interessada".

Hoje diretora de redação da influente revista de arte contemporânea Art Press, Catherine Millet, 53, viu o polêmico relato de seu passado libertino se transformar no grande sucesso editorial da França em 2001. Suas orgias por bosques parisienses, na maioria das vezes com homens dos quais nunca conheceria o rosto, foram traduzidas para 24 idiomas.

No Brasil, "A Vida Sexual de Catherine M." foi lançado pela Ediouro e desde então, há 18 semanas, figura na lista dos dez livros mais vendidos da revista "Veja".

Nascido em 1904 na cidade de Figueras, Salvador Dalí construiu uma extensa e popular obra -trabalhos sempre carregados de imagens oníricas e referências sexuais- principalmente depois que aderiu ao Movimento Surrealista em 1929, em Paris.

Em "Confissões Inconfessáveis", um de seus diários íntimos, escritos ainda na adolescência, o artista conta: "Experimentei durante muito tempo a grande perturbação de crer-me impotente. Desnudo, e comparando-me com meus amigos, descobri que meu sexo era pequeno e triste".

Depois que o pintor descobriu a prática da masturbação, praticamente não conheceu durante o resto da vida outra forma de chegar ao orgasmo. A revelação está no livro do historiador Ian Gibson, "Lorca-Dalí, El Amor que no Pudo Ser" (Lorca-Dalí, O Amor que Não Pôde Ser", sobre a relação entre o pintor e seu amigo íntimo, o escritor espanhol Federico Garcia Lorca.

Catherine Millet adiciona mais pimenta à polêmica: "Não estou certa de que Dalí e Gala tiveram relações sexuais", afirma ela, referindo-se à musa do pintor, retratada em uma série de quadros famosos.

No Brasil

Fã de Jorge Amado, a escritora francesa registra em sua autobiografia algumas passagens por terras brasileiras. Em "A Vida Sexual de Catherine M.", ela descreve um relacionamento relâmpago com um artista plástico local (que faz questão de manter anônimo) na primeira visita que fez ao Rio de Janeiro e a São Paulo durante uma das Bienais de Artes.

Curadora da seção francesa em 1989, na 20ª edição do evento, ela trouxe ao Brasil uma pequena retrospectiva do francês Yves Klein com 28 obras.

Millet já publicou um livro homônimo sobre Klein, além de textos sobre pintores abstratos norte-americanos, como Barnett Newman, Ad Reinhardt e Frank Stella. Seu mais recente artigo publicado analisava a produção do grupo conceitual inglês Art & Language.

 

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