Reuters
05/06/2002 - 13h02

Células-tronco de fígado dão origem a células do pâncreas

da Reuters, em Nova York

Pesquisadores da Flórida induziram células-tronco do fígado de ratos a se transformarem em células pancreáticas produtoras de insulina. Esse resultado abre a possibilidade de, no futuro, os médicos usarem células do próprio paciente para tratar a diabete.

A pesquisa está longe de ter uma aplicação clínica, mas sugeriu que as células-tronco apresentam uma flexibilidade maior do que se imaginava anteriormente, afirmou Lijun Yang, da Universidade da Flórida, em Gainesville.

No futuro, pode se tornar possível tratar a diabete por meio da geração de células produtoras de insulina a partir de células extraídas da própria pessoa, disse Yang, que é coordenadora do estudo atual.

"Estamos no começo da curva de aprendizagem da biologia das células-tronco adultas. Esse estudo é o primeiro passo nessa direção", explicou a pesquisadora.

A diabete tipo 1 também é chamada de diabete juvenil porque, em geral, afeta pessoas mais jovens que a forma mais comum da doença, a diabete tipo 2. Na diabete tipo 1, o sistema imunológico ataca as células do pâncreas que produzem insulina. O distúrbio provoca a redução ou a eliminação da produção desse hormônio, que regula o nível de açúcar no sangue. As vítimas dessa forma da doença precisam receber injeções diárias de insulina.

Para recuperar-se da diabete tipo 1, o organismo necessita da reposição do suprimento de células produtoras de insulina. Agora, a equipe de Yang descobriu uma nova forma de fazer isso -ao menos em ratos.

Com base no conhecimento de que as células pancreáticas e as hepáticas são originadas pelo mesmo grupo de células embriônicas, os pesquisadores testaram a possibilidade de transformar células-tronco do fígado de ratos adultos em células do pâncreas produtoras de insulina. As células-tronco são mais abundantes nos estágios mais iniciais de desenvolvimento dos seres vivos, mas alguns tecidos adultos contêm reservatórios desse tipo de célula, que é altamente adaptável.

As células-tronco retiradas do fígado de ratos adultos foram cultivadas em um ambiente rico em açúcar, destinado a imitar as condições do pâncreas. Essas estruturas começaram a se diferenciar e, diferentemente das células hepáticas, conseguiram produzir insulina.

Após o transplante para o pâncreas de ratos diabéticos, os níveis sanguíneos de açúcar desses animais voltaram ao normal em dez dias, segundo artigo publicado na edição on-line antecipada da revista "Proceedings of the National Academy of Sciences".

A pesquisa abre a possibilidade de que células da medula óssea da própria pessoa sejam usadas para tratar diabete. Yang explicou que estudos anteriores demonstraram que células-tronco de medula óssea podem originar células-tronco de fígado.

"Se as células-tronco derivadas de medula óssea puderem se transformar em células produtoras de insulina, as células-tronco de medula de pacientes com diabete tipo 1 poderão ser utilizadas como fonte para o doente obter suas próprias estruturas que fabricam insulina", disse Yang. Nessa caso, não haveria necessidade de usar medicamentos imunossupressores para evitar que o organismo rejeite as células, disse a especialista.

Essa terapia ainda está distante. Atualmente, a equipe avalia, em modelo animal, a eficiência dessas células na reversão da diabete.

"A principal questão é determinar se uma injeção de células vai durar toda a vida ou se serão necessárias várias injeções", disse a coordenadora da pesquisa. Yang acrescentou que os pesquisadores ainda precisam determinar se a transformação das células hepáticas é permanente ou se eventualmente elas retomarão suas funções originais.

Também precisamos nos certificar de que o transplante de células derivadas do fígado não provocará efeitos colaterais, disse Yang.

"Sempre que uma célula é colocada em cultura, ela é alterada. Por isso, há risco de que, ao implantar essa célula em um organismo, ela possa gerar um tumor", explicou a especialista.

A equipe coordenada por Yang desenvolve também um estudo para determinar se essas células produtoras de insulina derivadas de células-tronco permanecem normais.
 

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