Reuters
10/06/2002 - 22h42

Países pobres sofrem com debate sobre comida transgênica doada

da Reuters, em Washington

Enquanto os Estados Unidos e a Europa lutam pelo futuro dos alimentos geneticamente modificados, países pobres que precisam de doação de milho e soja ficam na rebarba dos debates sobre biotecnologia.

A Europa demonstra preocupações com os efeitos ambientais e à saúde que os alimentos transgênicos podem causar. Os Estados Unidos dizem que a segurança já foi provada cientificamente.

A disputa ficou mais aparente nesse mês, quando uma doação de 10.000 toneladas de milho do governo norte-americano para o Zimbábue foi retida por causa de preocupações com a biotecnologia.

O milho irá para outros países do sul da África, mesmo com metade dos 11,5 milhões de habitantes do Zimbábue em risco de passar fome.

Autoridades da ONU dizem que não haveria problema com a doação dos EUA se o milho fosse moído e não em grãos inteiros. Mas os grãos poderiam ser usados como sementes e não para o consumo. Isso criaria um problema duplo.

Se o milho fosse comido por animais, as exportações de carne do Zimbábue para a Europa ficariam ameaçadas.

Segundo uma autoridade do Programa Mundial de Alimentação, o governo do Zimbábue poderá aceitar uma doação de milho transgênico dos EUA em julho, se "acompanhada de uma campanha de educação e conscientização" para que não seja usado como alimento para animais ou como semente.

Os Estados Unidos acusam a Europa de usar a biotecnologia para erguer barreiras comerciais injustas.

Em 1999, após um ciclone no Estado de Orissa, Índia, grupos ambientalistas fizeram uma campanha contra a doação de uma mistura de soja e milho transgênica. O governo indiano acabou aceitando a doação.

Na segunda-feira, o grupo Amigos da Terra afirmou que parte do milho doado pelos EUA para a Bolívia testou positivo para StarlinK, variedade aprovada pelo governo norte-americano somente para uso animal. A empresa Aventis SA, que fez o StarLink, recusou-se a comentar o assunto.

Oposição
De acordo com um estudo privado, cerca de 25% da comida doada no mundo vem de sementes modificadas para repelir insetos ou resistir a herbicidas.

O percentual pode subir para 82% com o aparecimento da farinha biotecnológica, daqui a muitos anos, segundo relatório do grupo Agricultural Cooperative Development International/Volunteers.

As primeiras plantas transgênicas foram desenvolvidas por cientistas nos anos 80. Desde então, vêm sendo usadas em grandes fazendas dos Estados Unidos, onde quase 70% da soja e 25% do milho tem origem geneticamente modificada.

A tecnologia se encaixa no objetivo da ONU de reduzir a fome no mundo pela metade até 2015, mas sofre oposição de grupos de consumidores e ambientais.

"Quando o assunto é comida geneticamente modificada ou nada, a maioria das pessoas diz que prefere comer," disse Marc Cohen, do Instituto de Pesquisa de Políticas Internacionais de Alimentação.
 

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