Dezenas de delegados abandonam Loya Jirga antes de votação
da Reuters, em CabulDezenas de delegados abandonaram hoje a Loya Jirga, assembléia tribal afegã que se preparava para escolher o novo governo do país, com mandato de 18 meses. Hamid Karzai, o líder interino apoiado pelos Estados Unidos, é o candidato único.
Mais de 60 delegados deixaram a sessão, irritados com o que julgam ser a falta de liberdade no seu voto a respeito do futuro do país. Foi o segundo dia do evento, que reúne cerca de 1.600 homens e mulheres de todas as etnias do Afeganistão.
| Reuters - 28.jan.2002 |
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| Hamid Karzai, líder do governo interino do Afeganistão |
A comunidade internacional espera que a Loya Jirga finalmente traga estabilidade ao Afeganistão, que viveu sucessivamente sob ocupação soviética, guerra civil e o regime islâmico do Taleban, derrubado em 2001 pelos Estados Unidos na sua caçada à rede Al Qaeda.
Mas o clima político permanece tenso, e um incidente na manhã hoje demonstrou isso: tropas de paz alemãs brigaram com seguranças particulares que acompanhavam alguns delegados e se recusaram a se desarmar. Em seguida, segundo testemunhas, a polícia afegã interveio, apontando suas armas para os alemães. Não houve feridos.
Mais grave que essa pequena briga é a divisão política que existe entre a maioria pashtun (que apóia o ex-rei) e as minorias que se reuniram em torno à Aliança do Norte [guerrilha aliada dos EUA], para quem Zahir Shah não deve ter nenhum cargo no governo.
Representantes de todas as facções estão de acordo em dizer que até agora houve poucas consultas e nenhuma votação na Loya Jirga, uma instituição milenar, mas considerada historicamente um mero trâmite para legitimar as decisões da monarquia
"Quem são eles para nos fazerem de bobos", disse um delegado do lado de fora da gigantesca tenda branca, reclamando que o presidente da assembléia foi escolhido pela própria comissão organizadora, não pelos delegados.
A reunião começou com um dia de atraso, por causa de disputas entre facções. Logo na abertura, Karzai se precipitou, entendendo o apoio do ex-rei como uma eleição por aclamação. Ele se retificou depois, mas reforçou a impressão entre seus adversários de que a Loya Jirga é apenas uma encenação para levar ao poder um político visto por alguns como um peão dos Estados Unidos.
Apesar desses problemas, analistas consideram que o simples fato de a reunião acontecer é um sinal alentador para o país. É a primeira vez que a Loya Jirga se encontra desde a década de 1970.
Para diminuir a tensão, o ministro do Interior, Yunir Qanuni, renunciou, e seu colega de Relações Exteriores, Abdullah Abdullah, deve fazer o mesmo. Ambos são da etnia tadjique, do norte do país, a mesma de Rabbani.
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