Reuters
13/06/2002 - 21h11

Bispos dos EUA pedem perdão por casos de abuso sexual

da Reuters, em Dallas (EUA)

Os bispos católicos dos Estados Unidos abriram hoje o histórico encontro sobre abusos sexuais com um vigoroso pedido de desculpas às vítimas de padres pedófilos e uma promessa de tomar atitudes em relação ao escândalo que abala a Igreja norte-americana.

"Em meu próprio nome e em nome de todos os bispos, expresso as mais profundas desculpas para cada um de vocês que sofreram abusos sexuais de um padre ou de outra autoridade da Igreja", disse o presidente da Conferência Nacional de Bispos Católicos dos EUA, Wilton Gregory, em seu discurso de abertura.

Gregory também "confessou-se" em nome dos bispos, desculpando-se pela transferência de padres acusados, por não informar os casos a autoridades civis, por preocupar-se mais com os escândalos do que com a proteção das crianças e por tratar as vítimas e seus parentes como adversários.

"Sinto profundamente e sentirei para sempre pelo mal que vocês sofreram", disse Gregory. "Eu lhes peço perdão."

Na abertura do encontro de dois dias, os quase 300 bispos ficaram em silêncio enquanto ouviam as vítimas de abusos.

"As desculpas emitidas por bispos e cardeais não serão ouvidas a não ser e até que passem além da retórica de erros e dêem à proteção dos padres que abusaram o nome certo - um pecado, nascido da arrogância do poder", disse o teólogo Scott Applebee, da Universidade de Notre Dame.

Os comentários de Gregory, o mais contundente pedido de desculpas de um líder católico desde o início do escândalo, em janeiro, aparecem no momento em que os bispos discutem a adoção de uma política de "tolerância zero" em relação à pedofilia. A proposta deve ser votada amanhã.

"Peço a adoção de uma política de tolerância zero", disse Paula Gonzales Rohrbacker, que sofreu abuso sexual de um seminarista. "Este crime deixou cicatrizes profundas em minha alma."

Sob pressão, o encontro deverá aprovar uma nova política nacional da Igreja que prevê a expulsão de padres que cometeram qualquer abuso sexual. "O sentimento é muito forte nesta direção", disse o bispo George Niederauer, de Salt Lake City.

Defesa da Igreja
Gregory também pediu para qualquer vítima ainda não identificada registrar o crime e para os clérigos assumirem os erros.

"Se houver qualquer bispo que abusou sexualmente de uma criança ou de um jovem, peço que registre o fato (a Roma) para que a Justiça e a Igreja sejam contempladas e para que vocês possam viver honestamente com sua própria consciência", disse.

Mas, além das desculpas, o presidente da Conferência dos Bispos defendeu os bons trabalhos da igreja e da grande maioria dos padres. "A Igreja Católica dos Estados Unidos continua sendo a única grande provedora de serviços, ajuda, formação e educação de crianças nesta nação", afirmou, antes de fazer leves críticas à mídia.

O escândalo na Igreja dos EUA começou em Boston, em janeiro. Desde então, quatro bispos e 250 padres renunciaram. O escândalo também atingiu bispos em Polônia, Irlanda, África, Canadá e Austrália.
 

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