Reuters
23/05/2001 - 16h54

Tropas sérvias preparam-se para ocupar vale de Presevo

da Reuters, em Bujanovac (Iugoslávia)

Milhares de soldados sérvios preparavam-se hoje para entrar, com apoio da Otan, em uma área na fronteira com Kosovo, enquanto dezenas de guerrilheiros de etnia albanesa se rendiam às tropas internacionais na região.

O governo iugoslavo espera enfrentar pouca resistência na ocupação do vale de Presevo, de onde os líderes guerrilheiros aceitaram se retirar em 16 de maio.

Em contraste com esse otimismo, a poucos quilômetros dali o governo da Macedônia enfrenta uma resistência feroz de outros grupos albaneses.

O máximo que os sérvios imaginam é que haja algumas dificuldades, isoladas e passageiras, ao entrar no chamado setor B da zona-tampão criada pela Otan para separar Kosovo da Iugoslávia. Essa operação deve ocorrer na manhã de amanhã.

"Não espero grande resistência, mas não excluo a possibilidade de alguns incidentes menores causados por pequenos grupos'', disse o vice-primeiro-ministro sérvio, Nebojsa Covic, arquiteto do plano de paz do novo governo reformista do país para aquela região.

O comandante das forças iugoslavas no sul da Sérvia, general Ninoslav Krstic, disse que "os extremistas não têm apoio ou força para ações sérias, ou para alterar significativamente a situação do terreno''.

Os governos da Iugoslávia e da Sérvia (a maior das repúblicas iugoslavas) divulgaram um comunicado conjunto em que dizem que a operação estará a cargo de "unidades de elite com experiência em missões similares''.

Caso a operação seja pacífica, cerca de 3.500 soldados e policiais vão entrar na faixa de 35 quilômetros de extensão por cinco de largura. Em caso de incidentes violentos, serão 17.500 homens.

A fronteira com o setor B foi fechada na manhã de hoje a qualquer pessoa ou veículo que viesse de Kosovo em direção ao resto da Sérvia, com exceção de jornalistas ou equipes de emergência.

O bloqueio deve durar vários dias. No sentido contrário, a fronteira permanece aberta, para permitir o tráfego de refugiados ou guerrilheiros que queiram se render e receber anistia.

Enquanto as tropas iugoslavas preparavam a ocupação, cerca de 40 guerrilheiros se entregaram às forças internacionais, atingindo um total de 300 rebeldes que já aproveitaram a oferta de anistia para depor as armas.

Essa oferta, negociada entre os líderes das tropas internacionais e dos guerrilheiros, foi considerada hoje generosa demais pelo presidente iugoslavo, Vojislav Kostnica. "Todos os que entregarem as armas e suspenderem suas atividades voluntariamente serão anistiados, inclusive os que cometeram os crimes mais graves'', afirmou.

O grupo Exército de Libertação do Presevo, Medvedja e Bujanovac (as três principais cidades da região) surgiu em janeiro de 2000, propondo-se a defender os albaneses locais da repressão sérvia.

A guerrilha valeu-se da zona-tampão criada em torno de Kosovo pela Otan em junho de 1999, para evitar que soldados e policiais sérvios se aproximassem da região de maioria albanesa.

Mas a aliança militar ocidental agora quer demonstrar apoio aos reformistas que chegaram ao poder no ano passado, derrubando o ditador Slobodan Milosevic. Por isso, as tropas iugoslavas foram autorizadas a voltar ao vale do Presevo.

O setor B é a parte mais delicada dessa zona, sobre a qual os guerrilheiros mantiveram controle durante os últimos meses. Eles aceitaram o argumento de que, com a queda de Milosevic, o momento político não é mais propício à luta armada.

Um ponto de interrogação permaneceu, porém, sobre o líder radical Muhammed Xhemajli, que não parecia disposto a acatar a decisão. Houve relatos confusos e conflitantes sobre seu paradeiro, mas ele parece afinal ter abandonado sua base no norte do setor B e decidido não lutar.

Autoridades sérvias prometem acabar com a discriminação que havia na era Milosevic contra os albaneses étnicos e integrá-los totalmente a instituições como a polícia.

"Estamos terminando a fase de tornar a região segura, mas isso não quer dizer que o trabalho esteja todo feito'', disse Covic. "Precisamos continuar com uma integração mais intensa dos albaneses.''

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