Reuters
04/07/2002 - 15h06

Pais de vítimas recolhem terra do local onde caiu avião russo

da Reuters, em Berlingen

Desesperados por conseguir algo que tenha relação com os filhos que nunca mais voltarão para casa, os pais das vítimas russas do acidente aéreo desta semana passaram o dia recolhendo punhados de terra e feixes de trigo do local da queda, no sul da Alemanha.

Além das condolências, havia pouco que os moradores do local pudessem oferecer aos 140 parentes que viajaram 3 mil quilômetros desde a remota região do Bashkortostão, nos Urais, para recolher os corpos.

Os pais choravam ao ver a cauda do Tupolev-154, uma das poucas peças que restaram da bola de fogo que caiu de 11 quilômetros de altura na noite de segunda-feira (1º), nos arredores do lago Constança. A bordo estavam 52 crianças russas que passariam férias na Espanha. No total, 71 pessoas morreram.

A maioria dos corpos está irreconhecível, e sua visão seria ainda mais cruel com os pais das vítimas. Por isso, psicólogos pediram ao governo regional que não permita a visita dos parentes aos necrotérios.
"Fisicamente, alguns poderiam não suportar" afirmou Thomas Schöuble, ministro estadual do Interior de Baden-Wörttemberg.

A polícia pediu aos parentes que levassem pentes, roupas usadas e lençóis das vítimas para que a identificação seja feita com base no DNA. "Muitas não têm nem rosto", afirmou o porta-voz da polícia Harald Wanner.

Até agora, 68 vítimas foram encontradas, inteiras ou mutiladas. As autoridades dizem que os outros três corpos podem não ser achados.

Os parentes das vítimas participaram de uma cerimônia religiosa na cidade de Berlingen e depois foram levados em seis ônibus para o campo onde caiu a cauda do Tupolev. O grupo foi mantido à distância dos jornalistas. Muitas pessoas choravam, e algumas tiveram de ser amparadas.

O luto dessas famílias contrastava com a felicidade dos moradores de Berlingen, que consideram um milagre que ninguém tenha sido atingido pelos destroços dos dois aviões. A cauda do Tupolev caiu a apenas 200 metros de uma casa onde vivem crianças, na zona rural. Um dos motores caiu no quintal de uma família.

"Esta colisão é tanta coincidência que deve ter a mão de Deus. Mas não vejo sentido na morte dessas crianças russas", comentou uma moradora do local, em referências às vítimas, provenientes da elite do Bashkortostão, uma região muçulmana e rica em petróleo.

Enquanto os parentes das vítimas olhavam o local do acidente, iluminado por um belo entardecer, Berlingen começa a retomar sua rotina. "A vida continua", disse Heinrich Schörmann. "Talvez eles façam algum memorial por aí. Mas a vida continua."

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