Reuters
10/07/2002 - 12h19

Companhia de dança Deborah Colker estréia "4 por 4" em São Paulo

da Reuters, em São Paulo

Uma escultura, um quadro, uma mesa e uma instalação com 90 vasos foram o ponto de partida para a carioca Deborah Colker criar a coreografia "4 por 4", espetáculo de dança que chega a São Paulo na quarta-feira após percorrer o sul do país e o Rio de Janeiro.

Trata-se da quinta montagem da companhia e a primeira após Colker ter sido laureada no ano passado com o prêmio Laurence Olivier, o mais importante das artes cênicas britânicas.

Desta vez, a coreógrafa tira os bailarinos do plano aéreo e acrobático que imperou em ``Casa'', sua última produção, e parte para explorar o limites cênicos do chão em quatro momentos.

Deles, o que mais tem chamado há atenção é justamente o último quadro, "As Meninas", que remete aos trabalhos dos pintores Velázquez e Degas. Buscando retratar garotas aprendendo a dançar, duas bailarinas ensaiam passos nas pontas dos pés, acompanhadas por Deborah ao piano executando uma sonata em lá maior de Mozart.

Aos poucos, vasos vão sendo colocados em cena até chegarem ao número de 90, o que obriga os bailarinos a terem precisão e rigor máximos para se movimentar entre as peças.

"É a dança no limite. Fomos nos inspirar um pouco no Oriente, na concentração e numa diferente atenção entre espaço e movimento", diz Deborah sobre "Vasos", uma instalação bolada pelo diretor de arte do espetáculo, Gringo Cardia.

No primeiro quadro, intitulado "Cantos", há peças em três planos que se encontram. Elas foram desenvolvidas pelo artista plástico Cildo Meireles no final dos anos 1960 e resgatados para compor a coreografia.

Colker colocou bailarinas com vestidos longos e salto alto para explorar as possibilidades espaciais das frestas, por onde passam braços e até corpos inteiros.

Em seguida, o palco do teatro Alfa é tomado por uma mesa estilizada desenvolvida pelo grupo Chelpa Ferro, dos artistas plásticos Luiz Zerbini, Barrão, do editor de imagens Sergio Mekler e do produtor musical Chico Neves especialmente para o espetáculo. De dentro dela sai a música que vai atraindo três bailarinos até que eles subam e desenvolvam nela sua coreografia.

"Procuramos criar um objeto para que Deborah e a companhia pudessem se divertir bastante", diz Zerbini.

A trupe volta ao chão no próximo instante, quando 17 bailarinos dançam sobre um quadro de 12 metros por 14 metros de Victor Arruda, buscando uma atmosfera ao mesmo tempo erótica e infantil ao som de "Someday My Prince Will Come", da trilha sonora de Branca de Neve, dos estúdios Disney.

"É o sexo sem o menor pudor, ocupando todos os buracos, quase escatológico, mas com muito humor. É como seu um adulto observasse como as crianças vêem o mundo", diz Deborah sobre o quadro, batizado como "Povinho".

Com apresentações confirmadas em Londres, Hamburgo, Galway (na Irlanda) e Macau ainda este ano, Deborah, que já se apresentou em 11 países, confirma sua intenção de fazer dança contemporânea para grandes audiências e em escala planetária.

"Queremos nos conectar com o mundo contemporâneo.(...)Assim, (o trabalho) fica mais sincero, com menos chance de ser pretensioso e com mais chances de atingir muitas pessoas. Não quero um trabalho para poucos, mas para todos", diz a coreógrafa.
 

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