Reuters
15/07/2002 - 15h29

Moda verão quer glamour adulto na passarela, diz Costanza Pascolato

da Reuters, em São Paulo

A consultora de moda e empresária Costanza Pascolato acredita que a próxima temporada de verão, que se verá a partir desta segunda-feira no São Paulo Fashion Week, vai trazer uma mulher mais adulta, sensual e glamourosa à passarela e enterrar o look adolescente de "menininhas esqueléticas" que inspiraram as coleções passadas.

"É a hora de mostrar uma sexualidade mais adult", disse ela. "Até a (marca italiana) Prada colocou modelos na faixa dos 30 anos para desfilar a coleção do inverno. Todos estão pensando em fazer uma roupa mais especial e atraente".

Isso significa muito luxo, vontade de seduzir e de enfeitiçar, mas, segundo ela, de uma forma diferente. Nada de se empetecar demais, desfilar marcas, expor logotipos.

Trata-se sim de roupas caríssimas com aspecto de usada e do visual que mistura várias marcas, caras e baratas, além de algumas peças de época, para formar um estilo extremamente pessoal.

"Sabe o estilo grunge de sobreposições? É isso aí, mas em vez do trash, a moda vai pro luxuoso", diz Costanza. "É o downtown chic (nova-iorquino). É a roupa casual com mistura de tecidos preciosos".

Quem sabe se vestir bem na atualidade, diz ela, consegue ser elegante usando um mantô de tweed com saia de seda e uma camiseta branca básica qualquer. Para arrematar, botas e um echarpe indiano dourado.

Na nova temporada, os contrastes imperam tanto nas formas quanto no estilo.

As mangas e as calças são amplas, as peças têm mais volume de tecido, os drapeados continuam, mas ficam diminutos para que possam modelar o contorno do corpo, onde os volumes são mais ajustados.

"O grande negócio se chama crossover. Os estilistas estão brincando com a convivência de coisas aparentemente desligadas. Misturam várias épocas, o estreito com o largo, o habillé com o street, o sagrado e o profano".

Foi o que fez John Galliano para a Dior num único desfile que misturou o classicismo dos vestidos gregos e a sedução hollywoodiana de Marilyn Monroe. Ou Miuccia Prada, que foi revisitar os lugares-comuns do que era tido como sexy ao longo das décadas e voltou aliando calçolas de lingerie dos anos 1920 a camisas de chiffon dos anos 1940.

Ou ainda Tom Ford na Gucci, que destruiu tecidos de forma punk, mas bebeu no século 18 para resgatar a estética cinematográfica de "Ligações Perigosas" e conferiu a tudo isso uma atitude de mulher "Belle de Jour".

"O espírito (da moda atual) é o da Bela da Tarde, uma mulher da alta burguesia e um pouco pervertidinha", diz Costanza.

Se o chique é usar uma roupa com cara de desgastada, as cores são todas aquelas que lembrem os pigmentos naturais. Cores muito fortes, nem pensar, e quando muito, apenas nos detalhes.

"As cores hoje são feitas com pigmentos sintéticos, então, as cores mais nobres são aquelas que remetem ao urucum dos nossos índios, as cores dos hindus. Um tecido tingido assim não tem uma cor muito nítida".

Voltar a essa atmosfera é o que todos querem. Por isso, além da cor branca, rainha suprema de todos os verões, as outras cores devem respeitar uma cartela que tem como base a cor de pele, produzindo um efeito apagado.

"A cor pele é a solução da moda. Veja as mulheres do último Oscar. Estavam todas enfeitadas, mas essa cor deixa a roupa mais leve, choca menos".

Costanza aposta que a moda folk das franjas e tecidos florais está definitivamente enterrada. Também não jogaria suas fichas no conjunto bata e calça.

"Acho que ninguém vai investir nisso depois da orgia folk que vimos nas vitrines. As batas também já foram queimadas pelo Bom Retiro (bairro de moda atacadista em São Paulo). O artesanal permanece, mas mais elaborado e romântico", diz ela.

Os famigerados anos 1980 devem permanecer por mais uma coleção, mas em citações mais discretas que nas temporadas anteriores. Haverá minissaias de um lado, ombros ligeiramente estruturados por outro, alguns toques de laranja, verde e o violáceo cor de maravilha, mas cada um separadamente, para não reviver os excessos fashion produzidos naquela época.

Para Costanza, um dos estilos que permanece é o do historicismo, que foi uma aposta certeira de estilistas como Alexandre Herchcovitch, Reinaldo Lourenço, Glória Coelho e Marcelo Sommer na última coleção de inverno.

Ele apareceu em longos casacos de tapeçaria em janeiro, permaneceu nas recentes coleções européias de inverno e deve continuar como uma referência, só que um pouco mais estilizado.

"Uma coisa é ser ousado e outra é mostrar criatividade, mostrar que o estilista está com o dedo no pulso da história. Algumas idéias que eles mostraram aqui eu vi no inverno europeu. Levar esse imaginário para a passarela é o melhor cartão de visitas que eles podem apresentar", afirma.

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