Reuters
18/07/2002 - 15h54

Brasileiros acham fóssil de novo réptil voador pré-histórico

da Reuters, em Washington

Cientistas brasileiros encontraram no Ceará os restos de um dos animais mais estranhos já descobertos: um grande réptil voador, contemporâneo dos dinossauros, que pescava com um bico semelhante a uma tesoura e tinha a cabeça coroada por uma enorme crista óssea.
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Réplica do fóssil do pterossáurio encontrado no Ceará, que viveu há cerca de 110 milhões de anos

Alexander Kellner e Diógenes de Almeida Campos descreveram hoje essa espécie até agora desconhecida dos pterossáurios (répteis com asas que eram da família dos dinossauros). A descoberta foi publicada na revista "Science".

A descoberta é importante não apenas pela curiosidade da crista saindo do crânio, mas também por oferecer informações sobre como os pterossáurios caçavam, segundo os pesquisadores. O fóssil foi batizado de "Thalassodromeus sethi" (o primeiro nome significa "corredor marinho" e o segundo é uma referência a Seth, o deus egípcio do mal e do caos).

Kellner, que trabalha no Museu Nacional no Rio de Janeiro, explicou que o Thalassodromeus viveu há 110 milhões de anos e tinha uma cabeça de 1,4 metro, devido à crista. O corpo media 1,8 metro e as asas tinham envergadura de 4,5 metros.

"Se você não tivesse os fósseis, não daria para acreditar que esse animal já existiu" afirmou ele, em entrevista por telefone. "Dá para imaginar esse animal passando rasante sobre a água, em sua direção?"

Os cientistas imaginam que o Thalassodromeus voava sobre lagoas em busca de comida. A mandíbula inferior abria-se, ficando um pouco abaixo da água, para devorar qualquer peixe ou crustáceo que estivesse por lá.

Esse é um recurso usado por algumas aves atuais. Além disso, há semelhanças entre o bico e as mandíbulas desse animal com um pássaro chamado Rynchops. "O novo pterossáurio do Brasil nos dá informações importantes sobre a estratégia de alimentação desses animais", afirmou Fabio Dalla Vechia, que realiza pesquisas sobre os pterossauros no Museu Paleontógico de Monfalcone, na Itália.

Crista notável
A características mais proeminente do Thalassodromeus é sua crista alta e fina, que termina em V e lembra uma enorme flecha ou lâmina de faca. Essa crista compõe três quartos da cabeça do animal. Entre todos os animais, só outro tipo de pterossáurio tinha uma crista óssea proporcionalmente tão grande.

"Isso é algo próximo ao extremo do bizarro", disse Christopher Bennett, especialista em pterossáurios na Universidade de Bridgeport, em Connecticut (EUA), que viu o novo espécime. "Mas os pterossáurios são animais realmente bizarros", observou.

A crista é coberta por uma rede de "calhas", que segundo Kellner era parte do sistema sanguíneo, usadas para reduzir a temperatura corporal.

Bennett considera essa conclusão "razoável", mas diz que também há evidências de que as cristas eram usadas como atração sexual em outros pterossáurios.

Esse tipo de réptil não era um dinossauro, embora ambos tenham aparecido na mesma época do Triássico (225 milhões de anos) e vivido até 65 milhões de anos. A teoria mais aceita para o seu fim é o impacto de um asteróide ou outro corpo celeste sobre a Terra.

Os pterossauros são os primeiros vertebrados voadores, surgidos milhões de anos antes dos morcegos e das aves. Segundo os cientistas, eles tinham o corpo peludo. Sabe-se pouco sobre eles, porque seus ossos leves deixaram poucos vestígios.

O Thalassodromeus viveu na metade do período cretáceo, ou seja, já na etapa final da era dos dinossauros. Kellner o descreveu na "Science" com base em um crânio preservado, encontrado em 1983 em Santana do Cariri (Ceará). Ele disse que outros ossos do corpo também foram achados, o que permitiu descobrir detalhes como seu tamanho e amplitude das asas.
 

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