Reuters
18/07/2002 - 21h26

Sindicatos britânicos prometem "verão de problemas"

da Reuters, em Londres

Dois eventos hoj deixaram clara a fragilidade das relações entre o premiê britânico, o trabalhista Tony Blair, e os sindicatos que apoiaram o Partido Trabalhista por mais de um século.

Primeiro, funcionários do metrô pararam por 24 horas em Londres em protesto contra planos de privatizar partes do serviço.

Funcionários públicos municipais já haviam cruzado os braços por salários mais altos nesta semana, deixando escolas fechadas e lixo nas ruas, na primeira greve nacional em mais de 20 anos.

Blair sofreu outro golpe hoje quando um de seus poucos aliados firmes entre os sindicalistas - sir Ken Jackson, líder do Amicus, o segundo maior sindicato britânico - perdeu a eleição para o esquerdista Derek Simpson.

Jackson contestou o resultado, alegando irregularidades na votação. Uma reunião da executiva do sindicato para decidir sobre a convocação de novas eleições foi interrompida por falta de quórum após simpatizantes de Jackson deixarem o local em protesto. Mas Simpson disse que outra votação estava "fora de questão".

O Amicus é a mais recente inclusão na lista de sindicatos que têm optado por uma liderança mais agressiva. A greve de hoje no metrô londrino foi liderada pelo linha-dura Bob Crow, que já havia retirado o financiamento do sindicato ao Partido Trabalhista.

Líderes sindicais estão prometendo um "verão de problemas" - uma analogia ao "inverno do descontentamento" de 1979, quando um quarto da força de trabalho entrou em greve e o governo trabalhista saiu do poder, para onde não voltou por 18 anos.

A comunidade de empresários, que Blair corteja tão assiduamente, está nervosa. "A militância vai se tornar mais intensa, sem dúvida", disse Rith Lea, chefe de políticas do Instituto de Diretores.

John Edmonds, líder do sindicato GMB, que se classifica como um crítico construtivo de Blair, concorda. "Nos últimos dois anos, todo sindicalista que ganhou uma grande eleição obteve a vitória expressando reservas sobre o chamado 'novo trabalhismo'", afirmou. "É parte de uma tendência, e o governo deveria estar muito preocupado."

Uma teoria circulando em Westminster é a de que Blair está tentando iniciar uma briga para que possa se livrar de seu passado e romper seus laços com os sindicatos de uma vez por todas.

Segundo fontes no partido, isso não é verdade. Afinal, os sindicatos ainda são responsáveis pela maior parte das receitas dos trabalhistas. E os cofres do partido já estão bem vazios.

E mesmo Blair, que reinventou o Partido Trabalhista para que tivesse mais apelo entre o tradicionalmente conservador centro da Inglaterra, temeria alienar milhões de eleitores em potencial que são filiados a sindicatos.

Blair não pode ignorar os sindicatos, mas os dias em que eles discutiam a política do governo com cerveja e sanduíches em Downing Street estão distantes.
 

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