Reuters
28/05/2001 - 16h28

Escritor egípcio recusa tradução de seu livro para o hebraico

da Reuters, no Cairo (Egito)

Planos pacíficos de traduzir literatura árabe para o hebraico são as mais novas vítimas dos oito meses de combates entre israelenses e palestinos.

O escritor egípcio Ibrahim Abdel-Meguid disse no fim de semana que rejeitou, com relutância, a oferta feita pela editora israelense Andalus de traduzir uma de suas obras, para que integrasse uma série que procura criar elementos que facilitem a compreensão entre israelenses e palestinos.

"Senti que alguns escritores estão querendo ampliar a questão para que assuma proporções desmedidas. Alguns escritores acusaram de traição pessoas que tiveram suas obras traduzidas", disse Abdel-Meguid à Reuters, contando que quatro outros romancistas egípcios recusaram ofertas israelenses semelhantes.

Os rendimentos obtidos com a série, cujos colaboradores incluem escritores marroquinos e libaneses, serão doados aos palestinos que combatem a ocupação israelense na Cisjordânia e Faixa de Gaza, informou Abdel-Meguid.

Pelo menos 448 palestinos, 87 israelenses e 13 árabes israelenses já morreram na Intifada (revolta) palestina nos territórios capturados por Israel na Guerra dos Seis Dias, de 1967.

O Egito foi o primeiro dos apenas dois Estados árabes a fechar um acordo de paz com Israel, mas muitos de seus escritores e intelectuais resistem ao que chamam de "normalização" com o Estado judaico.

Na semana passada a Federação Egípcia de Escritores expulsou o dramaturgo Ali Salem por manter contato com israelenses.

Em Israel, a proprietária da Andalus, Yael Lerar, disse compreender as razões dos árabes que se opõem à normalização, dizendo que ela dá a entender que existe paz, quando isso não acontece.

"Não acho que precise haver normalização, mas acho importante publicar literatura árabe em hebraico porque isso cria uma possibilidade de israelenses compreenderem a perspectiva árabe", disse Lerar.

Abdel-Meguid reconheceu que dificilmente pensadores árabes e israelenses conseguirão ter discussões que façam sentido, contra o pano de fundo sangrento da Intifada. "O clima atual não conduz ao diálogo produtivo", afirmou.

Para o romancista Yousef al-Qa'id, um dos principais adversários dos contatos com escritores israelenses, não existe espaço para tal diálogo em Israel porque o campo favorável à paz desmoronou.

"Seria impossível o governo israelense permitir que um escritor árabe doasse dinheiro à Intifada. Ele impede até mesmo medicamentos de entrarem em Gaza, vindos do Egito", disse ele, referindo-se aos frequentes fechamentos da fronteira promovidos por Israel desde que a revolta começou.
 

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