Reuters
29/05/2001 - 09h16

Comissário da UE volta à Macedônia para evitar guerra étnica

da Reuters, em Budapeste (Hungria)

O comissário europeu para Assuntos Externos, Javier Solana, volta hoje à Macedônia, continuando uma frenética viagem diplomática para tentar mediar a crise na região e evitar uma guerra civil de fundo étnico.

Solana despertou em Skopje após uma série de encontros políticos entre líderes albaneses e eslavos, ocorrida na véspera. Voou para Budapeste, onde relataria sua missão a chanceleres da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), e em seguida voltaria à Macedônia para continuar as negociações.

Após as reuniões de ontem, o espanhol Solana disse ter encontrado boa vontade e compreensão entre as partes, mas viu ainda ''diferenças a serem resolvidas''. Enquanto no norte do país o Exército, majoritariamente eslavo, continua atacando redutos dos rebeldes albaneses, na capital políticos das duas etnias tentam salvar um recém-criado governo de união nacional.

Fontes diplomáticas disseram que Solana propôs que ambos os lados assinem um comunicado conjunto que na prática anularia um pacto feito entre albaneses moderados e líderes rebeldes, sem que isso obrigasse a um recuo público das reivindicações já feitas.

A Otan e a União Européia temem que a Macedônia possa entrar em guerra civil caso o governo de união nacional se desintegre, deixando nas mãos do Exército o combate pelas armas com os rebeldes de etnia albanesa

"Ainda há muito ódio e vontade de vingança", disse o secretário-geral da Otan, George Robertson, ao abrir os dois dias de encontro dos chanceleres da Otan na capital húngara, o primeiro desse tipo desde o fim da Guerra Fria. "Nossa reunião de hoje envia um sinal claro de que continuamos determinados a trazer paz e estabilidade a toda a região dos Bálcãs."

Solana volta a Budapeste amanhã para mais encontros com representantes da Otan e da UE (União Européia). Em Budapeste, os chanceleres da Otan devem emitir um comunicado conjunto pedindo "tolerância zero" contra o extremismo da etnia albanesa, segundo disseram diplomatas da aliança antes do encontro.

Os aliados também vão pressionar a Turquia, um dos seus participantes, a retirar suas restrições ao uso das instalações da Otan pela União Européia. A UE planeja usá-las em sua Força de Reação Rápida, de 60 mil homens, a ser criada até 2003.
Mas o governo turco, que há anos tenta sem sucesso a adesão à União Européia, não quer permitir que a UE use as bases da Otan como ponto de apoio para futuras missões de estabilização na região.

Os europeus prometem consultar os turcos antes de qualquer operação, mas dizem que países de fora do grupo não podem ter tanta influência nessa nova força quanto seus donos.

O principal temor turco é o de uma operação na conflagrada ilha de Chipre, onde a população de origem helênica luta com apoio da Grécia (membro da UE e da Otan) contra os membros da etnia turca que querem uma república independente no norte do país. Além disso, os turcos mantêm uma constante tensão com Atenas por causa da posse de ilhas no mar Egeu.

O chanceler turco, Ismail Cem, publicou na terça-feira um artigo no Financial Times dizendo que Otan e UE não são rivais, mas que em qualquer contrato de cessão é o proprietário quem impõe os termos.

Ele disse que a Otan já havia decidido em Washington, há dois anos, que o acesso europeu a instalações na Turquia seria analisado caso a caso, mas uma cúpula européia anulou essa decisão.

Não se espera uma solução do problema em Budapeste, mas há um frenético jogo de bastidores para que um acordo seja alcançado antes de uma cúpula informal da Otan em Bruxelas, dia 13 de junho.
 

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