Reuters
06/08/2002 - 15h05

Reforma agrária no Zimbábue tira terras de fazendeiros brancos

da Reuters, em Mutorashanga (Zimbábue)

Fazendeiros brancos se reuniram hoje em vários pontos do Zimbábue para o que pode ser a despedida final a suas terras, já que vários se preparam para fazer as malas e cumprir o prazo dado pelo governo para desocupar as propriedades.

O presidente Robert Mugabe determinou a 3.000 fazendeiros brancos que paralisassem a produção em junho e saíssem das fazendas até 9 de agosto, para que a terra possa ser entregue a agricultores negros.

Hoje, 60 fazendeiros de Mutorashanga, cem quilômetros a nordeste de Harare, se juntaram para uma foto de grupo no clube local. Alguns se despediram para sempre.

Um deles, que não quis se identificar, afirmou que mais de 70% do grupo está indo embora, e a maioria pretende abandonar o país, aproveitando-se de facilidades que estão sendo oferecidas por nações vizinhas.

"O humor aqui está em geral depressivo. A maioria de nós não quer ficar na África. Eu quero ficar, mas meu governo não me quer por causa da minha cor", afirmou.

Mugabe diz que sua reforma agrária sumária visa corrigir distorções herdadas do tempo do colonialismo britânico, que instituiu no Zimbábue um regime de segregação semelhante ao do apartheid sul-africano. Resultado disso é o fato de que até hoje os brancos controlam as terras do país.

Outro fazendeiro, que ainda não recebeu uma ordem de despejo, disse que não vê futuro para o Zimbábue, pois na opinião dele o país perderá muito com a saída dos experientes agricultores brancos. "A economia está desmoronando. Não é viável plantar neste país e acho que esta será a base da minha decisão", afirmou.

Rootle Braunstein diz que em uma semana embarcará para a Nova Zelândia, para trabalhar como ferramenteiro. Deixará para trás uma propriedade que produz 850 toneladas de trigo, 220 de tabaco, 40 de páprica e 500 de milho por ano.

"A realidade é que não tenho mais onde cultivar, e meu negócio não pode mais funcionar. Recorri ao governo e fiz objeções, mas ninguém me ouviu, por isso estou indo embora", afirmou Braunstein.

Críticos da reforma agrária de Mugabe dizem que ela vai deixar 250 mil agricultores sem trabalho. "Muitos desses caras estão conosco há 20 ou 40 anos. Eles vão receber seu pacote, mas basicamente viraram sem-teto", disse um agricultor.

Cada funcionário dos brancos terá direito a uma indenização e poderá pedir terras. Além disso, o governo incentiva os novos donos das fazendas a contratar esse contingente.

A seca dos últimos anos e a tensão política em torno da reforma agrária fizeram com que o Zimbábue, outrora auto-suficiente em alimentos, necessite agora de ajuda alimentar para 6 milhões de pessoas. O país atravessa sua pior crise econômica em 22 anos de independência.

 

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