Reuters
30/05/2001 - 08h25

Cúpula do G-15 começa ofuscada por caos indonésio

da Reuters, em Jacarta (Indonésia)

O presidente indonésio, Abdurrahman Wahid, abriu hoje, para poucos presentes, a cúpula dos países em desenvolvimento que acontece em Jacarta, um evento totalmente ofuscado pela movimentação no Parlamento, a poucos metros, que aprovou o processo de impeachment do líder político.

Para muitos indonésios, a reunião de cúpula no mesmo dia em que os deputados discutem o futuro do presidente é um constrangimento nacional. Para tornar tudo pior, os dois acontecimentos têm lugar a poucas centenas de metros um do outro, ambos ameaçados pela violência dos fanáticos seguidores de Wahid. Caso o Parlamento siga adiante com o processo de impeachment, Wahid ameaça decretar estado de emergência e dissolver o Congresso para salvar seu cargo.

Só metade dos membros do G-15 compareceram à cúpula, cujo tópico principal é diminuir a distância que existe também no mundo digital entre países ricos e pobres. O G-15, criado em 1989, agora reúne 19 países: Brasil, Argélia, Argentina, Chile, Colômbia, Egito, Índia, Indonésia, Irã, Jamaica, Quênia, Malásia, México, Nigéria, Peru, Senegal, Sri Lanka, Venezuela e Zimbábue. Quase todos eles têm problemas políticos em casa, e pelo menos um, o venezuelano Hugo Chávez, também estuda medidas de emergência para conter a oposição.

Os jornalistas foram proibidos de entrar no salão de reuniões e precisaram acompanhar o discurso de Wahid por televisões instaladas na entrada do pavilhão de convenções de Jacarta.

"A globalização, moldada pelos outros e imposta a nós, sugere que devemos desenvolver nossa própria identidade. A própria identidade é muito importante para resistirmos à influência das organizações multilaterais", disse o presidente.

Em uma aparente reviravolta na saga política indonésia, Wahid pediu que sua vice, Megawati Sukarnoputri, fizesse alguns comentários após o seu discurso. Ela recusou-se, acenando a mão. Ex-aliados, os dois vêm se afastando progressivamente desde o início do governo.

Megawati faz uma discreta campanha para o impeachment, que a levaria à Presidência. Para impedir isso, Wahid propôs um acordo político para que ela tivesse mais poderes, enquanto ele continuaria no governo. A proposta foi recusada.

O chanceler indonésio, Alwi Shihab, disse que o "não" de Megawati durante a cúpula foi um mal-entendido, e que ela faria um discurso horas mais tarde.

O presidente Robert Mugabe, que também enfrenta grave crise política no Zimbábue, aproveitou a hesitação dos indonésios e começou seu próprio discurso. Na semana passada, Mugabe havia cancelado sua presença no encontro. Surpresos, os jornalistas perguntaram aos organizadores quantos líderes haviam comparecido. "Não temos certeza, talvez oito", responderam.

 

FolhaShop

Digite produto
ou marca