Reuters
30/05/2001 - 17h39

Chefe da OEA teme "terror" no segundo turno peruano

da reuters, em Lima

O segundo turno das eleições presidenciais no Peru, marcado para o fim de semana, pode lançar o país em um novo "filme de terror", aumentando a instabilidade política após um ano de incertezas, segundo disse hoje a OEA (Organização dos Estados Americanos).

"Se não tivermos um vencedor claro, todo o país vai mergulhar em horas de angústia", disse o chefe da missão da OEA, Eduardo Stein.

"Talvez estejamos prevendo um filme de terror antes da hora, mas não podemos descartar essa possibilidade", afirmou Stein, um ex-chanceler guatemalteco que considerou as eleições do ano passado, vencidas pelo deposto Alberto Fujimori, irregulares.

Seis pessoas morreram nos protestos que marcaram a posse dele, em julho. Fujimori acabou deixando o cargo em novembro, por causa de uma série de escândalos que provocaram temores de golpe e meses de incerteza no país vizinho ao Brasil.

As pesquisas do fim de semana mostraram o economista Alejandro Toledo, de centro, à frente do seu rival, o ex-presidente Alan García, populista de esquerda, por uma margem de três a 13 pontos percentuais.

Bom orador e afeito às idéias nacionalistas, García conseguiu crescer na campanha apesar de seu catastrófico governo anterior (1985-90), que provocou hiperinflação e crise econômica. Ele teve uma chegada surpreendente ao segundo turno e, agora, analistas dizem que pode levar a eleição, após meses de favoritismo de Toledo, que faz campanha baseada em sua origem racial indígena e prometendo mais empregos.

Stein traçou três cenários potenciais: vitória apertada de Toledo e manifestações de rua dos simpatizantes de García; o contrário disso; e uma votação tão acirrada que o país ficaria por dias em suspenso, aguardando recursos judiciais.

"Qualquer resultado será positivo para o país", disse García em uma entrevista de rádio. "Quem quer que ganhe, acho que vai haver cooperação e harmonia no governo e em todos os setores.''

Um em cada quatro eleitores, fartos da falsidade e corrupção na política, declara aos institutos que vai anular seu voto ou depositá-lo em branco.

"Eleitores indecisos podem beneficiar minha campanha", disse García, 52. Mas não se sabe quanto deles realmente vão escolher um candidato na hora H.

Toledo, 55, tem usado as raízes indígenas e suas origens pobres _como 54% da população_ para conquistar os eleitores.

Pesam contra García as lembranças de filas para comprar comida e a fuga de investidores estrangeiros, além de acusações de corrupção das quais foi absolvido. Já Toledo é acusado de não ser confiável, devido às suspeitas de que tem uma filha ilegítima e que usou cocaína.

No domingo, os peruanos irão às urnas pela quarta vez em um ano marcado por escândalos espetaculares provocados pelo homem forte de Fujimori, Vladimiro Montesinos, que supostamente manipulava tribunais, jornais, militares e parlamentares por meio de uma rede de subornos.

"Talvez tenha havido um esforço da máquina de Montesinos para desacreditar os candidatos e mostrar que todas as eleições são viciosas e contaminadas", disse Stein. "Tendo visto a extensão e habilidade do aparato de inteligência, não ficaria surpreso se os agentes de campo do antigo governo estivessem tentando criar instabilidade", acrescentou.

Leia mais sobre as eleições no Peru
 

FolhaShop

Digite produto
ou marca