Reuters
31/05/2001 - 10h02

Macedônia tem cessar-fogo, mas sem garantia para civis

da Reuters, em Skopje (Macedônia)

Tropas macedônias e rebeldes de origem albanesas suspenderam os tiroteios hoje, mas se desentenderam sobre a maneira de retirar milhares de civis retidos na zona de combate.

A disputada aldeia de Matejce, a 20 quilômetros da capital, Skopje, estava quieta depois de uma noite de tiroteios. Um plano apresentado ontem para retirar mais de 8.000 civis de Lipkovo, onde há falta de água e comida, foi por terra depois que os dois lados se acusaram mutuamente de iniciar novos combates.

O governo acusa as guerrilhas de usarem civis como escudos humanos na sua campanha de cinco meses por mais direitos para a minoria albanesa do país balcânico. Já os guerrilheiros dizem que os cidadãos das montanhas do norte, a maioria deles albaneses, temem ser maltratados pelas forças macedônias se deixarem seus vilarejos.

"Haverá esforços para conseguir a retirada hoje, mas obviamente está nas mãos dos terroristas permiti-la", disse o porta-voz governamental Antonio Milosovski. "Sem os civis eles não são nada. Com eles, os guerrilheiros se acham heróis", afirmou.

Um comunicado do Exército de Libertação Nacional disse que a proposta para a retirada dos civis era inaceitável. Eles não concordaram com o plano de levar todos os refugiados para um ginásio da cidade de Kumanovo.

Lá, diziam eles, todos os homens seriam submetidos a um teste com parafina para identificar se haviam usado armas de fogo e "seriam declarados terroristas qualquer que fosse o resultado". O comunicado reivindicava que as aldeias de Lipkovo e Otlja fossem declaradas áreas sob proteção da ONU.

Sob crescente pressão para encerrar o conflito, o presidente Boris Trajkovski propôs na quarta-feira uma anistia parcial para convencer a guerrilha a entregar as armas. A medida deve causar polêmica, pois excluiria os líderes da revolta e os guerrilheiros acusados de matar soldados e cometer atrocidades.

Em uma carta ao secretário-geral da Otan, George Robertson, que medeia a crise, Trajovski apresentou um plano inspirado naquele adotado no sul da Sérvia, até agora com bons resultados.

Não chega a ser a anistia completa que desejavam os diplomatas ocidentais, mas mesmo assim deve ser bem recebido por diminuir o risco de que o conflito se espalhe por toda a região.

Mas a idéia não deve receber apoio dos eslavos mais radicais da Macedônia, que não admitem qualquer concessão à guerrilha. A coalizão entre partidos das duas etnias, que há duas semanas governa a Macedônia, ainda é muito frágil e alvo de desconfianças por causa de um acordo de paz firmado entre políticos e guerrilheiros albaneses -acordo que já foi abandonado, por pressão do Ocidente.

A Otan e a União Européia querem que se repitam na Macedônia as medidas de confiança que permitiram acalmar os ânimos na vizinha sérvia, que sofria o mesmo problema de insurgência albanesa. Lá foi criada, por exemplo, uma força policial multiétnica.

Trajkovski disse que até meados de junho deve tomar medidas contra a discriminação que albaneses -um terço da população nacional- sofrem em vários campos.
 

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