Reuters
22/08/2002 - 20h43

Colômbia vai incorporar 20 mil camponeses ao Exército

da Reuters, em Bogotá

O governo da Colômbia anunciou hoje o recrutamento de 20 mil camponeses para o Exército, enquanto a principal guerrilha do país questionou a decisão do presidente Álvaro Uribe de tentar retomar a negociação de paz por meio da Organização das Nações Unidas (ONU).

Os camponeses vão receber treinamento, armas e uniformes. Terão a tarefa de impedir o avanço das guerrilhas de esquerda nas suas próprias aldeias, uma situação comum no país que vive em guerra civil há 38 anos. Só na última década, foram 40 mil mortos.

O governo estima que hoje 500 dos 1.097 municípios do país estão à mercê de um ataque da guerrilha. Cada local ficaria com um contingente de cem militares, segundo uma fonte das Forças Armadas.

A iniciativa dividiu os parlamentares, mas foi aplaudida por empresários, que formam o principal alvo dos sequestros com que os rebeldes financiam suas atividades. "Não estou de acordo sob nenhum ponto de vista que os civis se armem", afirmou o senador Samuel Moreno, sem partido.

Por outro lado, a maior guerrilha do país, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc, marxista, com 17 mil homens), acusou o governo de estar buscando a "guerra total". Foi o primeiro comunicado das Farc a Uribe, que assumiu o governo em 7 de agosto em meio a uma onda de atentados na capital, todos eles reivindicados pela guerrilha.

Uribe foi eleito com um discurso linha-dura contra a guerrilha. Ele promete destinar US$ 1 bilhão a mais para os militares e criar uma rede de 1 milhão de informantes civis para ajudar o Exército e a polícia. Uma de suas primeiras medidas conta a guerrilha foi decretar estado de emergência, o que permite medidas excepcionais.

Apesar dessas iniciativas, Uribe deixou em aberto a possibilidade de negociar a paz, com a ONU como mediadora. Para isso, ele exige um cessar-fogo.

"Se a insurgência decidisse aceitar um diálogo condicionado, como o senhor propõe, o interlocutor da guerrilha não seria nem o senhor nem o governo, mas sim a ONU, organização com a que conservamos boas relações", disse uma nota das Farc.

"É como se o conflito social e armado fosse entre a ONU e a insurgência colombiana, não entre a insurgência e o Estado colombiano", conclui a carta a Uribe.

As Farc se dizem dispostas a retomar o processo de paz do ponto onde ele parou, no ano passado. Ou seja, quer trabalhar sobre uma agenda já definida, que inclui problemas econômicos e sociais e a reforma agrária.

Além disso, o grupo quer também assumir o controle sobre os Departamentos de Caquetá e Putumayo, grandes produtores de coca, no meio da selva. Essa área é quase três vezes maior que a "zona desmilitarizada" que as Farc controlaram durante boa parte do governo de Andrés Pastrana, antecessor de Uribe.

Nenhum funcionário do governo comentou a carta da guerrilha.

A Procuradoria Geral da Colômbia abriu uma investigação contra Manuel Marulanda, líder máximo das Farc, pelo suposto uso de armas químicas em ataques a quartéis da polícia.

Em Medellín, a polícia disse que os confrontos ontem, entre um grupo de guerrilheiros urbanos e paramilitares de direita, deixaram dois mortos.

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