Reuters
24/08/2002 - 15h20

Texto de Fernando Bonassi ganha montagem em São Paulo

da Reuters, em São Paulo

O espetáculo "Sagrada Família", da Companhia de Teatro Físico Bru Palmieri, estréia no próximo dia 27, no palco do Núcleo Experimental de Teatro, o Next.

A peça, que conta a história de uma família com problemas graves , como abuso sexual, pedofilia, incesto e violência doméstica, começa em ritmo leve, falando de paixão e encontro.

Mas então a trama vai caminhando para a tragédia, em cenas curtas (todo o espetáculo tem apenas uma hora de duração) e contundentes, tanto pelo texto quanto pelos gestos dos atores.

O texto de Fernando Bonassi, que acompanhou de perto todo o processo de criação, não é composto de diálogos: trata-se de uma grande colcha de retalhos que destrincha alguns aspectos dos relacionamentos humanos.

Também não há cenários ou objetos de cena, e os atores têm de mostrar, através do corpo, o desenvolvimento paulatino da loucura dentro de cada um.

Movimentos repetitivos e coreografados, muitas vezes acompanhados apenas de música, levam o espectador a ver a degradação emocional pela qual passam os membros dessa família.

Também chamam a atenção os figurinos, que lembram camisas de força, concebidos por Mariane Abakerli, e a quase imperceptível e interessante concepção cênica criada por Mariane Cavalheiro

Primeiro impulso

O teatro físico, técnica criada na França, nos anos 1920 - num momento em que o teatro era muito discursivo -, trabalha o gesto e o corpo do ator.

"É o primeiro impulso, antes de estar destilado, analisado e comunicado em sons", explica a diretora e atriz da peça Bru Palmieri. "Tal formato é muito usado no Brasil na mímica e na dança, mas pouco associado à dramaturgia", explica.

A ítalo-brasileira Palmieri comenta que combinou a técnica do teatro físico com texto e interpretações dramáticas apenas na parte final do processo de criação. "Nós nos mantemos distantes da linguagem nas fases iniciais do processo a fim de nos concentrarmos na construção de nossas consciências física e visual", comenta.

O espetáculo procura fazer uma reflexão moral, política e cultural sobre a "sagrada família", ou melhor, a típica família de classe média. Para isso, os cinco atores da companhia fizeram uma extensa pesquisa, colhendo depoimentos de jovens que tiveram lares desestruturados.

"O espetáculo fala do indivíduo preso em conflitos de poder, insatisfações, angústias, desejos não realizados e deterioração, através de uma representação cênica dinâmica e imagética", define a diretora.
 

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