Reuters
26/08/2002 - 18h40

Aquecimento precisa ser discutido na Rio +10, diz técnico do Bird

da Reuters, em Johannesburgo

A Rio +10 não poderá deixar de lado a questão do aquecimento global, mesmo que seu principal foco seja o combate à pobreza, segundo o especialista Robert Watson.

Watson foi demitido em abril da IPPC, comissão da ONU encarregada de estudar a questão, segundo ele porque seu trabalho não agradava aos Estados Unidos. Ele comparece a Johannesburgo como técnico do Banco Mundial (Bird).

"As mudanças climáticas terão um impacto adverso na agricultura, na água e na saúde humana nos países em desenvolvimento, especialmente aqui na África", afirmou.

Um dos efeitos mais conhecidos do aquecimento global é a elevação no nível das águas, por causa do degelo das calotas polares. Por isso, disse Watson, dezenas de milhões de pessoas estão ameaçadas em áreas litorâneas, nos deltas de rios ou nos pequenos países insulares. "Acho que a mudança climática é uma questão importante para o desenvolvimento, que deve estar integrada ao nosso pensamento."

Como chefe da IPPC, Watson apresentou relatórios que previam um aquecimento médio do planeta de 5,8ºC em cem anos, o que parece ter irritado os norte-americanos.

Responsáveis por um quarto da emissão de dióxido de carbono do mundo, os EUA abandonaram o Protocolo de Kyoto, uma iniciativa internacional contra o aquecimento global, para não prejudicar os interesses de suas indústrias.

Guerra de interesses
A Rio +10, ou Cúpula Mundial do Desenvolvimento Sustentável, que começou hoje, foi convocada para fazer um balanço dos dez anos da conferência ambiental Eco-92 e desenvolver novas estratégias de como combater a pobreza sem destruir o ambiente.

O aquecimento global não está entre as prioridades do encontro, que deve dar mais importância a temas sociais, como acesso à água e saúde. "Muitos governos queriam atrair o presidente George W. Bush para vir aqui, e eles sentiram que com a mudança na agenda haveria menos chance de isso acontecer."

O aquecimento ficou de fora, mas Bush decidiu que de qualquer maneira não irá à África do Sul.

O tema, no entanto, acabará sendo discutido na parte dedicada à energia. Uma das propostas é aumentar o uso da energia renovável, como a solar e a eólica, o que elimina a queima de petróleo, por exemplo. Para Watson, o sucesso dessa estratégia dependerá de avanços tecnológicos e de mudanças políticas, como o fim dos subsídios às formas tradicionais de energia.

Watson chamou a atenção também para o fato de que em breve países de rápido desenvolvimento, como a China e a Índia, também terão de reduzir sua emissão de poluentes para cumprir o Protocolo de Kyoto.

"Precisamos dar ajuda a esses países para que solucionem sua demanda efetivamente, de maneira ambientalmente segura. Mas os primeiros passos precisam ser dados pelos países desenvolvidos, para que os outros peguem carona", afirmou.

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