Reuters
29/08/2002 - 10h46

Rio +10 apresenta parcerias polêmicas para o combate à pobreza

da Reuters, em Johannesburgo (África do Sul)

Os Estados Unidos e os países da Europa começaram a apresentar hoje, na Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+10), seus projetos de parceria com a iniciativa privada para o combate à pobreza, sob críticas de que eles estão mais interessados em ajudar as empresas que os pobres.

Paralelamente, os delegados retomaram pela manhã as negociações, que avançaram até a madrugada, em torno das propostas dos países pobres para que os ricos reduzam os subsídios à sua agricultura e aumentem a ajuda ao desenvolvimento do Terceiro Mundo.

Os Estados Unidos devem apresentar várias parcerias hoje, que redirecionam centenas de milhões de dólares de programas já existentes para a tarefa de reduzir pela metade, até 2015, o número de pessoas que vivem com menos de US$ 1 por dia. Atualmente, 1,2 bilhão de pessoas estão nessa situação.

A ONU (Organização das Nações Unidas) diz que essas parcerias -que envolvem também ONGs (organizações não-governamentais) e as comunidades locais- devem ser a grande inovação dos dez dias da Cúpula de Johannesburgo, convocada para traçar um balanço dos dez anos da conferência ambiental Rio-92, desta vez com ênfase no combate à pobreza, combinado com a preservação da natureza.

Um dos projetos dos EUA destina US$ 53 milhões em quatro anos para proteger as florestas da bacia do rio Congo. Outra iniciativa, multilateral, vai oferecer US$ 43 milhões para a implantação de redes elétricas em comunidades pobres.

Mas os ambientalistas estão céticos, dizendo que não haverá acompanhamento efetivo dos projetos e que na prática eles implicam que os governos se afastem de suas responsabilidades sociais.

Um exemplo dado pela entidade Amigos da Terra é o abastecimento de água, que agora custa mais caro em vários países pobres por causa das privatizações. Cerca de 1,1 bilhão de pessoas, quase 20% da população mundial, não têm acesso a água potável.

Os Estados Unidos são o país mais criticado nessa reunião. Hoje, o ataque partiu do cenário interno, quando um grupo de parlamentares de oposição acusou o presidente norte-americano, George W. Bush, ausente da reunião, de ser "algo obstrucionista na realização dos objetivos do desenvolvimento sustentável", como afirmou o democrata George Miller.

"É um erro horrível. Esta era uma oportunidade para o presidente vir aqui demonstrar sua preocupação e seu compromisso com essas questões, ao mesmo tempo em que avançaria na sua guerra ao terrorismo", afirmou Miller.

Muitos delegados dizem que os Estados Unidos apresentam a maior resistência a qualquer proposta de abertura comercial aos países pobres que vá além dos compromissos assumidos no ano passado, na reunião da Organização Mundial do Comércio, no Qatar.

Os países pobres dizem que subsídios de US$ 300 bilhões anuais para os fazendeiros dos países ricos impedem que os produtos do Terceiro Mundo possam competir em condições de igualdade nesses mercados.

O valor dos subsídios é seis vezes maior do que toda a ajuda oferecida aos países pobres. Segundo estimativa do Banco Mundial, uma vaca que viva em um país rico recebe em média três vezes mais dinheiro em subsídios do que a renda de um habitante dos países mais pobres do mundo.

Os delegados dizem que é improvável uma solução no impasse dos subsídios, questão que deve ficar para a discussão ministerial que começa nos próximos dias.

Outra polêmica envolve o termo globalização, associado à expansão das empresas multinacionais e a um crescente comércio mundial. Os Estados Unidos querem que o texto final faça elogios incondicionais a esse processo, enquanto outros países, inclusive os da União Européia e do Terceiro Mundo, preferem a ressalva de que nem todos são beneficiados.

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