Reuters
29/08/2002 - 14h11

Diretor Fernando Meirelles usa olhar estrangeiro em "Cidade de Deus"

da Reuters, em São Paulo

Em parceria com Katia Lund, o diretor Fernando Meirelles conseguiu transportar para o cinema a alma das favelas cariocas com "Cidade de Deus".

Inspirado no romance homônimo de Paulo Lins, o filme coloca em debate a realidade dos moradores da periferia do Rio de Janeiro, que vivem encurralados entre o poder dos traficantes e as arbitrariedades da polícia.

Rodado durante nove semanas na favela de Cidade Alta, o filme conseguiu a façanha de já estar totalmente pago antes mesmo antes de estrear em circuito nacional -a produção custou ao todo cerca de R$ 10 milhões.

Graças ao grande sucesso obtido no último Festival de Cannes, onde foi mostrado fora de competição, "Cidade de Deus" recuperou os investimentos com as vendas ao mercado externo.

Nos Estados Unidos, onde deverá estrear em 50 cidades em fevereiro, o longa contará com a distribuição da Miramax, o grande estúdio responsável pelo lançamento norte-americano de "Abril Despedaçado", de Walter Salles.

No Brasil, a produção está sendo distribuída pela Lumière e cerca de 90 cópias da fita estarão disponíveis em todo país a partir desta sexta-feira.

"Acho que temos uma grande chance de fazer sucesso", disse Fernando Meirelles. A grande expectativa do diretor concentra-se nos dois primeiros finais de semana de bilheteria. Depois, ele espera que o boca a boca continue a cativar o público.

Para o diretor, o fato de ser paulistano não impediu que entendesse a vida nas favelas cariocas e o problema do tráfico.

"Essa situação nas comunidades do Rio chega a ser mais surpreendente para mim do que para um morador da cidade, que cresceu naquele contexto", acredita. "É o olhar do estrangeiro".

Elenco comunitário

Além de ter sido filmado em uma favela, "Cidade de Deus" usou a própria mão-de-obra do morro carioca. Todo o pessoal de apoio -figurantes, marceneiros, costureiras, motoristas- foi contratado nas próprias comunidades de Cidade Alta.

"Tínhamos o compromisso de trabalhar com essas pessoas, porque o que elas querem é trabalho", afirma Meirelles.

Até mesmo o elenco foi formado em sua maioria por jovens atores, estudantes de teatro e cinema em ONGs culturais que trabalham nas favelas cariocas.

É o caso de Alexandre Rodrigues (Buscapé) e Leandro Firmino da Hora (Zé Pequeno) que, segundo Meirelles, já começaram a receber convites para estrelar em programas de TV.

Apesar de o filme ter se envolvido num episódio polêmico na semana passada, quando o traficante Pequeno foi preso ao comparecer na festa de lançamento da produção no Rio, Meirelles nega que a produção tenha convidado o criminoso e revela que toda a negociação para as filmagens nos morros contou apenas com a mediação das associações de moradores.

"Foi um processo longo até a gente chegar à Cidade Alta e fazer alguns acertos com as associações. Na realidade, a contrapartida de filmar num lugar assim é dar possibilidade de trabalho para a comunidade", conta Meirelles.

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