Reuters
02/09/2002 - 10h15

Fox admite falhas e pede "uma chance" à democracia mexicana

da Reuters, na Cidade do México

O presidente Vicente Fox admitiu ontem que não conseguiu atender às expectativas dos mexicanos em seus dois primeiros anos de mandato e pediu à oposição que o ajude a aprovar reformas.

Em seu discurso sobre o Estado da Nação, ponto alto do calendário político mexicano, com transmissão pela TV, Fox ressaltou suas realizações -transição pacífica de poder, reformas democráticas e estabilidade econômica- desde que sua vitória eleitoral, em julho de 2000, encerrou 71 anos de domínio do Partido da Revolução Institucional (PRI).

Mas o governo do Partido da Ação Nacional (centro-direita) vai aos poucos desiludindo os mexicanos e atraindo oposição cada vez maior no Congresso. Nesse cenário, Fox reconhece que poderia ter se saído melhor.

Reuters - 24.nov.2001
Vicent Fox, presidente do México
"Meu governo, o primeiro após uma mudança nos partidos políticos, está a par das muitas expectativas que o povo deposita sobre ele. Sei que o México exige melhores resultados. Sei que ainda há muito por fazer", afirmou.

À oposição, ele pediu consenso para a "discussão coletiva" sobre as reformas. "Vamos dar à democracia uma chance de progredir dentro de uma mudança responsável, construir um Estado onde possamos ser cidadãos plenos, uma sociedade inclusiva, com oportunidades decentes e uma distribuição justa de riquezas", disse Fox ao Congresso no seu discurso, que durou mais de uma hora.

Fox chegou ao poder numa onde de otimismo com relação a sua capacidade de negociar com os rebeldes zapatistas de Chiapas (sul) e fazer reformas políticas e econômicas.

Mas suas principais iniciativas, como uma polêmica reforma fiscal do ano passado, foram barradas no Congresso. O mesmo deve acontecer nos próximos meses com a proposta de abrir o setor energético à iniciativa privada. Enquanto isso, o conflito de Chiapas continua em banho-maria e a pobreza aumenta.

"Internamente, eles [do governo] não conseguiram o consenso. Os grandes projetos fracassaram devido à inexperiência e à insensibilidade social', disse o senador César Camacho, do PRI, após o discurso, marcado por vaias da oposição.

O presidente destacou resultados econômicos como a redução da inflação pela metade, a queda dos juros em um terço e um recorde de investimentos estrangeiros. Ele também disse que o governo está mais transparente, mais atento à corrupção e disposto a investigar abusos contra os direitos humanos cometidos no passado.

Ele não fez nenhuma menção específica ao conflito de Chiapas, que já dura mais de oito anos, mas defendeu a promoção dos direitos humanos com ênfase nos indígenas, uma das bandeiras rebeldes zapatistas.

"A escala da pobreza mostra que nossa principal tarefa é o desenvolvimento humano e social, para que a segurança legal das terras de nossos indígenas e camponeses seja garantida e eles possam ter acesso a uma vida decente."

As pesquisas de opinião publicadas no domingo pelos principais jornais mexicanos mostram a aprovação a Fox crescendo novamente, apesar da oposição popular à abertura do setor energético. O público também reclama da corrupção, da pobreza e da lentidão nas reformas.

 

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