Reuters
03/09/2002 - 16h06

"Ônibus 174" leva foco da violência para ruas cariocas

da Reuters, no Rio

Mais uma produção traz às telas do cinema a gravidade da violência no Rio de Janeiro e promete atrair a atenção da mídia nos próximos dias. Diferentemente do aclamado "Cidade de Deus", "Ônibus 174" tira o foco de dentro das favelas e o leva para as ruas cariocas.

O documentário dirigido por José Padilha é uma das principais estréias do Festival Rio BR, que começa em 26 de setembro, e relata o trágico sequestro de um coletivo que resultou na morte da refém e do sequestrador e foi destaque nos noticiários em 12 de junho de 2000.

"Fizemos questão de manter a fidelidade e a cronologia do episódio. O longa começa com o sequestro e, a partir dele, inserimos depoimentos", explicou Padilha.

"Nossa preocupação [no filme] não é a de apontar culpados nem soluções, mas gerar discussão sobre o tema. Não podemos nos resumir ao ato do sequestro, mas [avaliar] o que motiva uma sociedade a agir dessa forma."

Logo no início, um plano aéreo mostra o belo percurso do ônibus, que trafega da Favela da Rocinha, passando pelos cartões postais das praias de São Conrado e Vidigal e pela avenida Niemeyer até chegar ao Jardim Botânico, onde aconteceu a tragédia.

A partir daí, apesar de a história ser conhecida do público, o documentário consegue provocar suspense e nostalgia ao utilizar mais de 70 horas de imagens de TV, além de revelar uma extensa pesquisa em jornais, revistas e notícias de rádio sobre o incidente.

Tudo isso é mesclado ao depoimento do ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais Rodrigo Pimentel, que foi afastado da Polícia Militar por ter se colocado contra a ação policial no episódio que terminou com a morte da passageira Geísa Firmo Gonçalves e de Sandro Nascimento, um dos sequestradores.

A tragédia, que tirou o romantismo do Dia dos Namorados e durou quatro horas, levou a polícia do Rio a ser duramente criticada pela imprensa e pela opinião pública.

Quando Nascimento resolveu se entregar e saiu do ônibus protegido por Geísa, um policial, tentando salvar a refém, atirou na direção do sequestrador. Mas errou o tiro, e Nascimento, conforme havia ameaçado, atirou contra a passageira. Um outro tiro acertou Nascimento, que morreu por asfixia a caminho do hospital.

O cuidado do filme em mostrar os dois lados da moeda aparece na entrevista com a tia de Nascimento. Segundo o relato dela, esse menino de rua viu a mãe ser assassinada a facadas quando tinha 9 anos e, mais tarde, escapou de ser morto na chacina da Candelária _uma biografia dura e amarga.

O viúvo de Geísa, Alexandre Magno de Oliveira, fica a cargo de representar sua mulher no filme, enquanto imagens da educadora Damiana Nascimento, hoje com 42 anos, chocam ao demonstrar a real dimensão do ocorrido _ela sofreu um derrame durante o sequestro e não consegue mais falar, sendo capaz de se comunicar apenas por escrito.

"Ônibus 174", orçado em 600 mil reais, mostra quanto o sequestro traumatizou os cariocas. O percurso ainda existe, mas o número da linha mudou de 174 para 158.
 

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