"Uma Onda no Ar" mostra "verdadeira voz do Brasil"

da Reuters, em São Paulo

No início dos anos 80, uma emissora pirata do Aglomerado da Serra, criada por Misael Avelino dos Santos, ecoava nos quatro cantos de Belo Horizonte.

O conteúdo político da programação da Rádio Favela, que ia ao ar apenas durante "A Voz do Brasil", sofreu constante repressão policial, e seu idealizador foi preso inúmeras vezes até conseguir em 2002 uma concessão para atuar como emissora comunitária.

Essa história serve de base para "Uma Onda no Ar", de Helvécio Ratton, que estréia amanhã. Ao lado de "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles e Katia Lund, e "Madame Satã", de Karim Ainouz, o filme leva a periferia para as telas, mostrando a força das temáticas sociais no cinema brasileiro atual.

Em termos estéticos, Ratton abdica de qualquer estilização e ajusta o foco no enredo e nos personagens. Filmado em 16 mm e ampliado para 35mm, "Uma Onda no Ar" tem um aspecto granulado que lhe confere um ar documental, assim como a figuração verdadeira de muitos moradores da favela.

Jorge (Alexandre Moreno), personagem que representa Misael dos Santos, se junta aos amigos Zaquiel (Adolfo Moura), Brau (Benjamim Abras) e Roque (Babu Santana) para criar um programa transmitido durante "A Voz do Brasil".

O projeto, entretanto, esbarra na falta de dinheiro e o grupo se desdobra para conseguir verba. Jorge, bolsista de um colégio particular onde a mãe é faxineira, vira lavador de carro; Zequiel trabalha como técnico em eletrônica, Brau é artista e Roque acaba entrando para o tráfico de drogas.

Quando conseguem colocar a emissora no ar, a Rádio Favela rapidamente cai nas graças tanto dos moradores do morro quanto de setores da cidade. Mas os policiais não toleram as mensagens conscientizadoras e se tornam um problema para o grupo de amigos radialistas.

Jorge, então, é preso e recebe o apoio de uma jornalista, de um advogado e de todos os moradores da região que não concebem a idéia de ficar sem "a verdadeira voz do Brasil".

"Uma Onda no Ar" tem um tom didático, o que lhe confere uma capacidade de comunicação com todas as parcelas da sociedade. Prova disso foi a recente sessão ao ar livre para os próprios moradores do Aglomerado da Serra, que assistiram ao filme e se reconheceram na tela.