Reuters
08/09/2002 - 15h48

Wall Street toma medidas preventivas após ataques aos EUA

da Reuters, em Nova York

Wall Street nunca será confundida com os escoteiros. Mas, depois dos ataques de 11 de setembro, a região adotou o lema da corporação: sempre alerta.

O mercado de ações passou os meses após o desastre avaliando planos de emergência e fazendo ajustes tão necessários quanto dispendiosos. Novos projetos incluem manter mesas de operação em áreas afastadas do centro, reforçar entradas e repensar o conceito de quartéis-generais imensos e centralizados.

''A escala de imprevistos para os quais nos preparávamos está mudando significativamente'', diz Jerry Klawitter, que supervisiona o planejamento para garantir a continuidade das operações para a JP Morgan Chase & Co. ''Antes, esperávamos falta de energia, incêndio, inundação. Hoje consideramos uma gama muito maior de possibilidades.''

O ataque ao World Trade Center, realizado com aviões sequestrados, interrompeu as atividades do mercado norte-americano e mergulhou o distrito financeiro no caos por semanas.

Muitas empresas, como o banco de investimentos Lehman Brothers, foram forçadas a abandonar a região de Manhattan onde ficavam seus escritórios, acelerando o êxodo de bancos da área de Wall Street, iniciado há uma década. Outras companhias permaneceram, mas lentamente começaram a espalhar escritórios pelos Estados vizinhos de New Jersey e Connecticut.

''O 11 de setembro mudou a opinião de todos a respeito de manter os negócios centralizados'', afirmou Rob Blackman, vice-presidente-executivo da empresa de construção Tishman. ''Todas as grandes companhias estão procurando diversificar.''

Grandes negócios
Companhias que fornecem e gerenciam escritórios para casos de emergência viram seus negócios prosperar aceleradamente. SchlumbergerSema, uma divisão da Schlumberger Ltd. que fornece instalações com mesas, cadeiras, computadores e telefones, dobrou a área destinada para esses escritórios de emergência e está adquirindo rapidamente mais imóveis no Estado de New Jersey, em Iselin e na cidade de Jersey.

''As pessoas querem ter a garantia de que, em caso de desastre, podem trazer cem funcionários para cá e encontrar um espaço pronto para que possam trabalhar'', diz Joe Riscica, gerente-geral da divisão de serviços de recuperação da SchlumbergerSema.

Há um ano, cerca de metade dos clientes da SchlumbergerSema afirmavam não se importar em compartilhar espaços de emergência. Agora, todos querem ao menos algumas instalações exclusivas, diz Riscica.

Bancos de investimento e companhias de cartão de crédito estão contratando a Tishman Construction para auxiliá-los a encontrar prédios construídos durante o boom econômico dos anos 90, e que agora estão abandonados, para funcionar como centros de armazenamento de dados.

Outras empresas estão adaptando locais alternativos, como cafeterias, para que possam ser transformados em instalações de emergência em apenas algumas horas, diz Blackman.

Planos feitos
Bancos de investimento de Wall Street, como o Merrill Lynch & Co. e o Deutsche Bank Securities afirmam que os planos de contingência já haviam sido feitos há anos e que tais estratégias foram de grande auxílio após a tragédia de 11 de setembro.

''Eu sabia exatamente aonde ir, apesar do caos total em Manhattan'', afirma Paul Honey, vice-presidente do grupo de planejamento para situações de emergência da Merrill Lynch, que se dirigia ao World Financial Center, na região dos ataques, quando o World Trade Center foi atingido pelos terroristas.

Diante da tragédia, Honey se encaminhou para o escritório alternativo da Merrill e ficou ali durante uma semana, dormindo no chão. Ele recusou-se a revelar a localização das instalações de emergência, alegando razões de segurança.

Embora a maior parte dos planos de contingência tenham sido executados no calor do desastre, 50 por cento dos que tinham esse tipo de planejamento antes de 11 de setembro afirmaram que era inadequado, afirma Dennis Elwell, diretor de desenvolvimento de negócios para a Verizon Enterprise Solutions Group.

''A comunicação foi uma das coisas que não funcionaram muito bem'', afirma Klawitter, que encabeça um subcomitê da indústria que analisa as lições deixadas pelos ataques.

''O que acontece quando as pessoas não estão em seus setores habituais? Você sabe para onde enviar documentação e materiais? Isso é algo que podemos resolver melhor.''

Manter a normalidade custa muito

Interrupções de qualquer tipo podem causar grandes prejuízos. O banco de investimentos CIBC World Markets viu suas comissões reduzidas em US$ 225 mil por dia nas semanas que se seguiram ao ataque porque os telefones deixaram de funcionar.

A Merrill Lynch gastou cerca de US$ 83 milhões, deduzidos os impostos, em consequência dos ataques de 11 de setembro, enquanto o Lehman Brothers registrou um gasto de US$ 127 milhões como parte do custo de deixar sua sede no World Financial Center e transferir-se para outro local.

Um simples escritório em um local alternativo pode custar a um banco de investimentos algo que pode variar de alguns milhares de dólares até dezenas de milhares de dólares, segundo a SchlumbergerSema. Mas é um preço razoável a pagar para manter funcionários e clientes descansados. Pouco após o desastre, clientes potenciais exigiam conhecer os planos da JP Morgan para situações emergenciais, diz Klawitter.

Mudanças
A companhia telefônica Verizon Communications Inc. está simplificando sua rede e deslocando parte do tráfico para instalações subutilizadas depois de ver 200 mil linhas, 3,5 milhões de circuitos de informação e dez torres de celular completamente destruídas ou afetadas pelos ataques.

O grupo Goldman Sachs Inc. transferirá parte do staff para instalações na cidade de Jersey, em New Jersey, nos próximos dois anos.

O banco Lehman comprou da Morgan Stanley um edifício de 32 andares perto de Times Square para servir como seu novo quartel-general.

A Morgan Stanley, que perdeu cerca de 366 mil metros quadrados em escritórios no World Trade Center, comprou, em março, a antiga sede da Texaco no condado de Westchester, Nova York, para acrescentar 221 mil metros quadrados de espaço fora da área metropolitana de Nova York.

As empresas também estão instalando barreiras protetoras na parte externa de seus edifícios e revestindo as janelas com material resistente a explosões.

E, finalmente, as companhias estão se preparando para prover apoio emocional e material para funcionários traumatizados.

''Você tem de lidar com o lado emocional da casa'', diz Riscica, da SchlumbergerSema, que ofereceu comida e escovas de dentes a funcionários que passaram a noite em New Jersey depois que o World Trade Center foi destruído. Ele lhes trouxe até mesmo remédios. ''É necessário comunicar-se eficazmente, ser solidário'', enfatiza.
 

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