Reuters
25/09/2002 - 09h48

Regras do clero dos EUA sobre pedofilia incomodam o Vaticano

da Reuters, no Vaticano

O Vaticano está inquieto com as regras adotadas pelos bispos norte-americanos para lidar com padres pedófilos, mas deve aprová-las no mês que vem, ainda que de forma cautelosa, condicional e provisória, segundo fontes da Igreja Católica.

O Vaticano teme que algum sacerdote possa ser punido mesmo sem provas em casos de grande repercussão. Por isso, o Vaticano deve mandar a seguinte mensagem: é preciso agir com cautela.

Depois de vários escândalos que derrubaram a reputação da Igreja Católica nos Estados Unidos, os bispos aprovaram em junho novas regras contra o problema. Cerca de 300 padres norte-americanos já foram expulsos do clero desde janeiro.

As novas normas prevêem que os bispos suspendam os padres de suas funções caso haja suspeitas "dignas de crédito" de abusos sexuais de menores. O Vaticano entende que esse procedimento contraria o direito canônico, mas admite que essa é a única maneira de não piorar a imagem da Igreja nos EUA.

Uma resposta oficial sobre o assunto deve ser apresentada na segunda semana de outubro.

"Não haverá luz vermelha, mas também não haverá luz verde. Será um sinal amarelo", disse uma fonte. A regra só valerá nos Estados Unidos, e mesmo assim por apenas dois anos, de forma experimental.

O Vaticano deve pedir aos bispos norte-americanos que respeitem os direitos legais dos acusados e mantenham um diálogo para adequar os procedimentos ao espírito do direito civil e das leis canônicas.

"Talvez a carta sugira mais estudo de certas partes das normas", declarou uma fonte. "O que ambos os lados querem está claro, mas agora temos de encontrar a fórmula correta. Essa será a parte complicada."

Em um artigo na revista jesuíta "América", o professor de direito canônico John P. Beal afirmou que, do ponto de vista legal, encontrou partes "profundamente perturbadoras" nas novas normas. A definição de abuso sexual, por exemplo, é "excessivamente ampla e vaga". Não há distinção entre os vários tipos de agressões, sejam físicas ou morais.

Segundo Beal, os bispos estão usando "atalhos jurídicos" que violam o direito dos padres acusados a um julgamento justo -algo que o papa João Paulo 2º já havia chamado de "julgamento sumário".

O especialista também critica o fato de que, nesse tipo de processo, o ônus da prova caberá ao réu, não à acusação.

Leia mais sobre pedofilia na igreja

Leia mais notícias de Mundo

 

FolhaShop

Digite produto
ou marca